segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos “homens bons aos sangue ruim”


Somos 135 milhões de eleitores. Aptos a votar? Críticos “abalizados” dizem que não, que uma população de analfabetos funcionais que preenche metade dos eleitores habilitados, cidadãos que, ou não sabem ler mesmo, ou apenas assinam o nome, ou lêem mas não entendem o que leram, não estão aptos para escolher seus elegidos. Pois bem, na época do Brasil colônia a regra distinguia como eleitor ou candidato apenas os chamados “homens bons”, que eram selecionados numa estirpe que excluía os “sangue ruim”, ou como se dizia: ‘infectos”, índios, negros, judeus e mouros, ou ainda os que exerciam trabalhos manuais. Quer dizer, votavam os nobres ou proprietários graúdos. Deu no que?!
Na época imperial o critério se ligava ao valor da renda. Deu no que deu...
Nesse rol de exigências, as mulheres só se habilitaram em 1932. os analfabetos em 1985, os cidadãos entre 16 e 18 anos em 1989. Mudou o que?
A entrada dos sangue ruim nessa briga estendeu o direito (que alguns chamam de obrigação) de voto a todos os cidadãos brasileiros acima de 16 anos. Adianta o que?
Adianta que quanto mais gente der o pitaco na formação de um governo, mais se dilui a responsabilidade de viver sob o mando desse governante. Talvez seja bom para a nação, mas a verdade desde 1500 é que os mandatários, que deveriam servir o povo, servem-se do povo. Evidente que um regime fechado empobrece a qualidade dos governantes, que democraticamente eleitos sentem maior responsabilidade de prestar contas do que fazem. Mas, historicamente continuam fazendo como bem querem...
Segundo os “abalizados” críticos, os menos informados seriam sujeitos a serem manipulados mais facilmente. Entende-se por menos informados justamente os com dificuldade de leitura? O academicismo eleva à condição de informado em assuntos gerais os doutores ou donos de fortunas, como nos tempos dos “homens bons”. Pedindo desculpas aos que realmente se informam, quero discordar desses críticos. Tendo ouvido discursos deploráveis de homens bons e discursos memoráveis de sangues ruins,
Misturo as pedras desse tabuleiro para exercer o direito de não julgar por demérito. Apenas pela condição que assistimos ainda hoje de classificação de castas, não é possível mensurar capacidade eletiva.
Essa crítica exacerbada tenta anular o voto do menos letrado. Não é por aí, o que é preciso fazer é dar mais chance de instrução à camada menos informada, da que vê o voto como uma dentadura nova, à que vê a eleição como feriado para viajar.

sergiodonadio.blogspot.com

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