sábado, 10 de julho de 2010

Os pardais na janela

Estou aqui, vendo passar a janela
Um senhor, branco de longamente
Morto, inda capengando sua trela
De bagagem mínima, um tamanco,
Aquela bengala herdada do vizinho,
Que já morreu de vez, sem ela...

Estou aqui, vendo voar nesta janela
Esses pardais, vivamente inteiros,
Decifro, como não antes tenha visto,
Porque os pardais não envelhecem
De sofrer...é que não teimam a vida,
Que só é vida se possível de viver.

Desta janela é possível ver o lento
Despencar das faces frente o vento
Em rajadas que a idade de relento
Traz na bagagem de muletas doídas,
Como fora a tarde de cada vida uma
Estranha forma de viver, morrendo.

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