domingo, 29 de agosto de 2010

tisnes


Somos seres construídos de outros seres, a genética, mãe das interligações, propõe seres díspares e ao mesmo tempo iguais. A mistura de cores, alcunhadas raças, refaz o caminho dos navios negreiros, das levas de europeus, asiáticos, misturados aos nativos dessa terra de Santa Cruz, que resultou numa raça, aí sim acertadamente chamada de brasileiros, da brasa dos brasis de um tempo cru de indagações.
Já dos tempos de Salomão, nos cânticos de um povo à procura de seu destino, lemos versos que tratavam do “tisnado” da cor da pele, segundo o poema, linda, mas escura, e por isso posta a cuidar dos vinhedos de outrem.
Ainda hoje, num país de mestiços, (segundo Darcy Ribeiro “o povo mais bonito do mundo”), se classifica cor como raça. Volto ao assunto porque uma das perguntas do censo deste ano é exatamente se tem na casa pessoas da raça negra! A pergunta parece incoerente, já que o censo só contabiliza a raça humana, catalogando dados outros, como ganho familiar, aí sim estabelecendo a divisão mais doída nesse povo dos brasis.
Os fundos dos grotões e vilas acolhem o que seria a divisão, financeiramente, desse povo, em camadas que a própria segregação esconde. Somos sensíveis ao trato que certos povos dão aos seus cidadãos, seja dividindo em castas ou em gêneros, escancaradamente distintos. (a mais visível aberração de costumes é a condenação ao apedrejamento daquela senhora no Irã) mas não nos condoemos com o trato que nosso país dá aos seus cidadãos, indefesos por herança de pouco ou nenhum estudo familiar, que os prende às correntes dos trabalhos “nos vinhedos de outrem”. Segregados por um salário de fome, aviltados por uma ajuda de merrecas para que não morram de vez.
O censo mostra que somos um povo, nem branco nem negro, mestiço. Mas separados em A B C D E ...e sabe-se lá aonde chega a miséria até o Z dessa classificação! Aí sim, estamos divididos em donos de vinhedos e cuidadores de outrem.
Entre claros e escuros, a estatística aponta o “embranquecimento”social de escuros e o “escurecimento” de claros, quando uns e outros sobem ou descem na escala declasses,financeiramenteanotados. Quando os mais claros empobrecem,”escurecem”no conceito arraigado. Então, visivelmente a segregação, antes de qualquer outra, é monetária. Ao par dessa segregação estão os projetos de governos, direcionados aos grandes projetos, como um trem bala entre duas cidades, num país carente de ferrovias de norte a sul, (segundo um grande construtor, o custo dessa obra poderia estender trilhos de Porto Alegre a Belém). Exemplos como este com viadutos fenomenais, estádios suntuosos, obras de grande porte e serventia elitisada, são os tópicos de campanha, vide o problema dos aeroportos...sim, com problemas, mas, num país onde quase metade da população não é servida de água e esgoto, luz e escola, hospital e lazer, que alcançariam as camadas “de cor”, a prioridade é segregatícia ou não?
Quando o próprio censo distingue os donos dos vinhedos, voltamos aos tempos salomônicos, no século X a.C.?!

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