segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Tudo igual, ou piorou?



Tudo parece sempre igual, mas tudo é, ao mesmo tempo, perverso demais para ser igual ao ontem. Por volta de l789, 220 anos atrás, o Brasil tinha uma população de 2,5 milhões de habitantes, concentrados em sua maioria em Pernambuco, Bahia, Minas, Rio e São Paulo, distribuídos em capitanias. A grosso modo, já com uma composição étnica bem diversificada, com uma sociedade majoritariamente urbana, até mesmo nas regiões de engenhos, onde se formavam vilas, voltadas para grandes latifúndios, “governado” pelos “fidalgos do reino”, proprietários de terras e escravos e não escravos,
que praticamente substituíam o poder publico.
Pois bem, essa característica de desigualdades, muito bem mostrada por Gilberto Freire, em “Casa grande e senzala”, embora minimizada, persiste ainda hoje. A confissão disto é, entre outras, a criação de cotas para minorias negras e índias. Sendo gritante a disparidade entre ricos e pobres, essas cotas deveriam incluir outras etnias nas mesmas situações de penúria, onde brancos, por exemplo, nas periferias, são tão miseráveis quanto...
Mas, a coincidência de situações dois séculos depois, abrange todos os cantos do país, hoje com uma população de 190 milhões! Fala-se muito nos progressos conseguidos, sem duvida os há, mas persiste, insisto, a disparidade, muito visível nas situações de favelados, dentro e fora das literais favelas, ou melhor, comunidades, carentes, famintas de tantas fomes diversas...
Você, pai de família mais ou menos colocado, nesta escala escabrosa, que tem seu filho alimentado, vestido, com sua dentição tratada, (veja que estou colocando o mínimo para sobrevivência) com seu estudo regular, já parou para pensar naquele outro brasileiro, pai como você, que mora nos caixotes de papel e lona, e não tem esse mínimo para seu filho? Já parou para pensar que daí, dessa miserabilidade é que se extrai o dinheiro para as mansões de luxo, vizinhas das favelas?
Você, que comprou um carro por 60 mil reais, já pensou que o trabalhador braçal (que é braçal por falta de oportunidade de se instruir melhor) tem de trabalhar QUATRO MIL dias para receber o valor deste carro, bruto? E, depois de suados quatro mil dias, tem de ver que comeu mal, vestiu-se pior ainda, não saiu dos seus caixotes de moradia, não comprou uma TV nova, ou o que o valha, e continua no mesmo calejado trabalho braçal, enquanto você já trocou aquele carro de 60 mil por outro, novo, umas cinco vezes, e comeu bem, vestiu-se melhor ainda, conheceu novas praias, melhorou sua casa, etc...Você é o fidalgo do reino!
Voltando a l789, o fidalgo da época vivia na casa grande, mas sem nada do que tem a morada de hoje, quer dizer, as diferenças talvez fossem menos acachapantes do que hoje.

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