sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dias das crianças


Aquelas árvores magrelas diziam coisas...
Como se espiassem os meninos pelas janelas
E soubessem das parreiras os vinhos azedos nelas.
Aquelas árvores goiabeiras, raquíticas, tortas,
Aleijadas pelos ventos e moleques,
Diziam coisas das coisas fáceis, essas
De ganhar na burca ou no bafa, de manhã.

Das manhãs as goiabeiras chamam os pardais
A banquetear as delícias de seu tempo,
Argumentando a gula pelos cheiros doces
De suas frutas maduras quase podres e,
Desde sempre bichadas antes, ainda verdes.
Os pardais conversam com elas sua língua
De palavras que os moleques não sabem.

Os moleques não, os moleques querem o fruto
Arrancado na marra, torcendo galhos,
Quebrando senões, usurpando as vermelhas,
Mais saborosas que as brancas, irmãs.
Mas a árvore torcida da goiabeira sabe vidas
E sussurra aos meninos seu perdão,
Por serem meninos criança então.

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