domingo, 26 de dezembro de 2010

Abóbora de pescoço


A cucurbita moschata, popular abóbora de pescoço, é, no mais das vezes, enorme, por isso o comprador na feira dizia ao feirante para pica-la em pedaços, mas o feirante resistia à idéia justificando que ninguém quereria a cabeça, cheia de sementes, todos prefeririam o pescoço, de massa compacta. Desta cena extraio por metáfora a discussão sobre a escolha dos seres humanos, todos queremos a parte boa das pessoas, por extensão das famílias das pessoas, rejeitando os entéricos. Na impossibilidade de pica-las, temos que assumir sempre as partes descartáveis da “abóbora” na serventia dos pedaços aproveitáveis. Quando a cabeça pesa mais que o pescoço é que discutimos com o feirante.
Pensando bem, é preciso à esta altura, nos colocarmos no lugar do feirante: Estamos vendendo nossas abóboras também inteiras, com todas as sementes descartáveis junto, para que aproveitem a massa do pescoço e dispensem o resto?
Nesta hora é preciso pesar o que cada abóbora tem de massa compacta e de cabeça (vazia) para ver se vale a pena comprar, porque, sem dúvida toda abóbora tem cabeça sementeira, que pesa na hora de mexer o tacho, no calor da cozedura, feitura do dia a dia...
Nesta época, de amenidades diplomáticas e correrias natalinas, vivencio nas esquinas de nossas ruas comerciais todo tipo de cabeças, mais do que pescoços, vasculhando ofertas de quinquilharias nas prateleiras para marcar presença entre seus pares na noite de natal, sem esquecer as cabeças ou ofender os pescoços de cada espécie.
Não me coloco como conselheiro dono da razão, mas reconheço-me uma cucurbita moschata de bom tamanho, com uma cabeça enorme de problemas e um pescoço fino de lisuras, neste ambiente é que sementeio minha herança, espalhando para os quintais alheios esta mistura de partes boas e ruins, que, como dizia o Zagallo, terão de engolir.
Tendo o dito por dito, o dizedor aqui presente pede encarecidamente aos ledores que se assustem, como eu, com os tantos “compradores” dessa feira livre que é a vida convivida, que neste final de ano, picaram a abóbora, festejando natal e ano novo e férias e feriados com os pescoços reluzentes, deixando em suas hastes as cabeças, rejeitadas como lixo!
Sergiodonadio.blogspot.com/

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