domingo, 26 de dezembro de 2010

Rosário do Ivaí


A tarde
Já vem moendo
A luz
Quase escurecendo
Os caminhos veredas
Rumo ao rio de águas claras
E pedras escuras
No seu fundo lodoso.

Uma tarde
assim como
Se o fim do mundo,
Mas o fim de semana
voltava
A ensaiar a vida
Entre os dias poeirentos
E uma viola tocando baixo

uma saudade
Batendo fundo
Como se trouxesse
Dos longes
Noticia dela,
Que esperava
Os fins de semana.
Sabendo-me preso ali
Entre motosserras



E peões
E matas e o medo
Das cobras,
Puxava pro banho
Daquele rio fresco
E trazia de lá
Os barulhos das pedras
A soneira das horas
O cheiro da erva doce

E mais o canto
Dos catadores de feijão
Na época de colher
Ou plantar
Ou esperar.
São sempre
essas esperas
Que sustentam
a vontade
De ficar.

Mas não comigo
que sou citadino
E não planto nem colho
Apenas
assisto




O trabalho braçal
Daqueles homens meninos
E suas violas
E suas piadas
E o reverso da moeda
Puxando conversa

Ali me senti em casa
Como não antes
Nas outras moradas
Em que habitei
Por ser criado nelas
Mas estranho
Às vontades delas.

Aqui sei quanto vale
Pagar pela terra,
Pela árvore,
Pela escola de vida
Que é caminhar
pela mata
Abrindo picadas
Entre as canafístulas







E os arranha gatos
Que entopem as vias
E sangram as partes,
Costumeiramente
Me habituo com isso,
Mas sei que tenho
de voltar
Ao mundo esquecido
Chamado lar.


A tarde
Já vem moendo
A luz
Quase escurecendo
Os caminhos veredas,
Agora é preciso voltar
Que a vida
Não parou de fluir
Seu momentos
Garis.






Ofertório


Seria muito
Querer ofertar
Um verso sujo.
Mas um gesto de paz
Bem recebido
Pode aliviar
Em algum sentido
A forra das ofensas...

Talvez não seja bem
Falar dessas coisas
Que o silêncio manda
Esquecer às loas...
Mas aqui é meu campo,
Minha cama d’água,
Meu poleiro
Pro sono tranqüilo,

Tirante essas mágoas
Nem é de estilo
Desenterrar mágoas.
Por isso fico
Sem isso nem aquilo
Pensando
O que não digo.





Se você está morto
Não precisa mais
Se preocupar
Com os nadas da vida,
Tipo conversa chata
E contas a pagar,
Amigos a apagar,
Ascendentes a acender velas,
Descendentes que se negam
A acender velas para você,

Mas você está morto
Então não importa mais.
Como não importa se
vão fechar no feriado
Ou se vão jantar mais cedo
Para ver televisão
No quarto.

Não importa se vão calçar
Sapatos ou chinelos,
Bermudas ou pijamas,
Se o sol vai dar praia,
Se a chuva vai dar flores,
Se o gado comeu o sal
Se a vaca pariu de novo,
Se a mulher pariu a vaca,

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