terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Perdas e danos


Todos perdemos algo no correr dos dias de vivência neste mundo, não diria cão, mas áspero, para dizer o mínimo. Estes dias perdemos uma pessoa talentosa e lutadora, portadora de diabetes altíssimo, não esmorecia nunca, lutou até o último suspiro. Morreu deixando viúva muito nova e a filhinha de um ano e pouco. Bem, no velório fiquei assistindo a dor estampada nos rostos dos pais dele, que se desnorteavam pela sala, volteando o caixão como se pudessem ainda prover alguma ajuda ao filho, que se foi. Assistindo aquela cena, fico pensando nas perdas que temos durante a vida, um amigo do lado dizia que nesta hora é bom ser criança, porque a criança ainda não perdeu quase nada, só ganhou na vida, os carinhos, os cuidados dos adultos, não sabe o que é prover sentimentos junto com outras necessidades tanto materiais quanto emocionais. Não concordo com meu amigo e comecei discorrer sobre o que seria a perda para aquela criança, a mesma que no dia anterior disse-me ao ouvido que queria levar um livro para a professora no último dia de aula, porque ia perdê-la para o ano seguinte. Daí comecei enumerar mentalmente o que aquela, e outras crianças, estava perdendo, talvez inconscientemente, mas perdendo sim, naquele velório, o tio , que não mais veria, a tia, que se afastaria com a priminha, já que desfaz-se um pouco ali o tênue elo que havia entre as duas famílias, e emendando aos acontecimentos de fim de ano, perderia o convívio da escola, pois ano que vem vai para outra escola, conviverá com outras crianças, não aquelas com que se acostumou este ano, perderá o convívio com todos deste curso, no curso de suas vidas, cada um a procura de seu futuro. Pois bem, digo ao amigo que em criança também se perde alguns lances, a memória irá cobrar dela as intrigas e fanfarronices desse tempo, quando os eventos ficarem mais sérios, adolescendo e depois cursando uma faculdade ou um outro destino, indo trabalhar seu sustento, lembrará, como eu lembro hoje, daquele tempo das inocências, das primeiras letras desenhadas no caderno, sem muito sentido... portanto perde sim a criança seus valores de época, diferente do adulto mas também necessitada de consolo, conselho, direção, ordem mesmo para suas tarefinhas de criança. Neste inicio de ano, juntarão seus cacos tanto os pais do rapaz quanto sua irmã, sua filha, sua esposa, sua sobrinha, seus chegados de todas as idades.
Mais brandamente, quando um adulto perde um emprego ou muda de cidade ou mesmo de bairro, seus filhos criança perdem junto com ele os elos que montaram para seu mundo ali, naquela rua, naquele limoeiro, naquela escolinha, enfim, naquele quintal cheio de meandros, cantinhos ocultos, no jogo de bola, da amarelinha, nos recados nos cadernos.
Cada um com sua perda viveremos daqui para frente sentimentos diversos, mas entranhados nas idades e percepções das ausências, prometidos que somos de viver sentimentos de alegria e dor com a mesma paixão.

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