segunda-feira, 11 de junho de 2012

As similaridades Estive, de visita, em uma cidade do Estado, fiquei impressionado com a precariedade das ruas, esburacadas, sujas, com falha na iluminação dos postes, com as lixeiras quebradas, com os famosos orelhões estraçalhados, com obras inacabadas, de outras gestões, abandonadas em desserviço aos usuários, notei que as árvores estavam podadas irregularmente, obedecendo uma estranha fantasmagórica ordem de cortes avessos sob a fiação elétrica, decepadas em seu interior e desbragadas nas laterais, invadindo outros espaços, cobrindo a visão das placas de sinalização, isto nas poucas existentes, na maioria das calçadas só havia um tufo de ervas daninhas sobre os troncos cortados rente ao chão, que um dia foram frondosos, (talvez um tsunami não teria feito tanto estrago permanente). As calçadas de antigamente erodidas pelas cicatrizes das companhias de água, luz, telefone, e o escambal, que impiedosamente perfuraram pedras ornamentais e arremataram com cimento bruto, tão bruto que deixaram a impressão de propositadamente esculhambados, para ser refeitos por quem se sentir lesado. Fui procurar o cartório para resgatar um documento de um parente, recepcionado por um funcionário sem aptidão, ou vontade, ou preguiça enfadonha de cumprir o horário de braços cruzados sobre sua estabilidade, passou para uma outra moça, que discutia como iria vestir-se para um casamento vindouro, e ficou olhando-me como se esperasse que eu desistisse de importuná-la com picuinhas, vendo que eu não saía do balcão gasto e rabiscado por outros pacientes contribuintes, decidiu me atender. De volta à rua, tomei consciência da familiaridade que senti, vendo pessoas num ponto de ônibus circular, sob o sol, em pé, senhoras de idade, com suas varizes doídas, senhores curvados, uma gestante suando frio, duas crianças impacientes se digladiando, à espera de uma condução que deveria ter passado há algum tempo por ali, e que, sem cerimônia nenhuma, os recolhe periodicamente, sem horário fixo, sem o pudor de envergonhar-se pelo atraso, pelo desmazelo, pelas freadas bruscas... Procurando outras coincidências, notei uns mendigos “cuidando” de carros estacionados, uns menores mal encarados na esquina, um outro menor passeando sua vagabundagem numa camionete importada, extravasando sua perplexidade com o som estrondosamente alto, exibindo sua filiação perdulária, talvez a única forma de sentir-se querido, coitadinho... meninos sem destino, por falta ou excesso de regras. Já findando o dia, saí “de fininho”, desviando dos buracos nas ruas, cuidando dos motoqueiros apressados que tentavam me abalroar, com muita atenção as placas de mão e contramão, as preferenciais ocultas na imaginação de quem as propôs, voltando rapidinho para meu cantinho, porque aqui já conheço os mendigos, os buracos, os menininhos e suas artimanhas, e posso respirar quase tranquilamente, estou em casa.

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