domingo, 15 de dezembro de 2013



Confrontos


Os caminhos têm sutis diferenças.
Que eu não pene o pensar
Antes da virtude de vivê-los...
Amiúde recebo respostas
Que ilidem o prisma.

Que não me negue à razão
A parte fraca da tarde
Entardecendo o parecer-se
Bela e vigorosa ainda agora
Entre coroas de flores defuntas,

Que não se acerque de mim
Esse medo que vejo nos moribundos,
Das estradas tidas impossíveis.
Serei então corajoso como meu pai
No seu final de dores?

Que não me acerve a soberba
Ou a malícia, a iconoclasta agonia
Dos sarcásticos... Teremos dois pesos
Para uma só medida nessa hora
 De repousar os pensares?



Tudo que parecia sábio
Se estraga invariavelmente
À monotonia dos vazios
De uma mente cansada e vadia
E vazia e nostálgica doutros dias.

Como as comadres e as vilãs
Nesses tempos feros engulhando.
A ferocidade amansa
Ou não se chega até aí,
Ao suspiro final da inocência,

Num franzir de sobrolhos
A saber-se ignaro, embora vivido,
A surpresa lacrima a saudade
E o remorso das idas,
Por causa dos extravios.

Há de pensar-se vazio
O nó na garganta amarga
Preferindo o choro evulsivo
Ao riso amarelo tardado
Das dores comedidas,



Desde o primo pio
O pássaro inopinado fez-se livre,
Mais preso que eu.
Ser preso à incompetência
De viver-se já despenado,

Não livre das garras do gato
Que espiona os ninhos,
Da passarinha à senhora mãe,
Guardas das vidas nascituras
Empenando asas e vôos.

Tentados precocemente
Pode que venha a ser
Meu primeiro grito,
De júbilo ou dor,
Alçando olhos para o vôo

Sem planos de onde pousar
Nos longes ao dia findo.
Amoras já brotaram frutos,
Se maduras o pintainho sabe
Onde e quando os colhe,


Não eu, que ainda dependerei
Ser servido os grãos ao bico
As fomes de restos de estrelas,
Guias de marujos para
O desconhecido.

Tudo que parecia sábio
Guiado pelas gaivotas
Para o este dos mares revoltos
Sob esse mesmo céu límpido
De há mil anos, agora.

Que eu não saiba voar
Para ater a planta de meus pés
Volúveis em solo firme,
E resoluto, porque sadio
E forte ainda.

Que eu não faça coro
Aos moribundos,
Mas ceie com eles, servindo
A sopa de meus futuros
E uma espera infinda...



Os caminhos têm sutis diferenças,
Que eu não pene o penar,
Que eu possa discernir
Das dores crônicas as efêmeras
Abomináveis dores dos exageros.

O som do parque é o mesmo
Daqueles tempos, as crianças
 Brincam como naqueles tempos...
A sapiência do tempo
Repete-se nos atos,

                                         Ainda vale o medo dos escuros,
Que eu possa ouvi-los outra vez
Entre lamúrias e murmúrios
Das velhas pessoas velhas,
Ainda crianças nos folguedos,

O som do parque é o mesmo
E ouvir hinos e risos e barulhos...
Ao invés desses sinos
Anunciando mortes
Nos fins das tardes, já mortas,



Os caminhos têm sutis diferenças.
Que eu não pene o pensar
Antes da virtude de vivê-los...
Amiúde recebo respostas
Que ilidem o prisma.

Tudo que parecia sábio
Guiado pelas gaivotas
Para o este dos mares revoltos
Sob esse mesmo céu límpido
De há mil anos, agora.

Ainda o medo dos barulhos
Com os cordames puxando
O vento apontando o este
Ao velho marinheiro
Na sua volta.

Que eu volte com ele,
Das outras viagens para este,
Entre as rezas e os risos
A impassível volta
Ao tempo paraíso.

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