quinta-feira, 2 de janeiro de 2014



Suscetibilidades


Somos suscetíveis à dor.
Mais ainda somos
Suscetíveis ao amor.
Cavaleiros da antiguidade
Duelavam
Por uma declaração
De guerra ou de amor,
Nunca pela paz.

Espingardeiros se cansam
De longas caminhadas
Mas não de mãos dadas
Com suas promessas
Defasadas
Por uma declaração
De paz e amor,
Talvez guerreada...





“Que o amanhecer do dia seguinte
Tenha a paz iniciada dentro
E os mortos sejam perdoados”





Madureza


A gente sabe que amadureceu
Quando a vida começa a doer...
O silêncio começa a valer...
O amor a se expandir entre
Os chegados da vez.

As ausências se desimportam
Quando na ortografia torta
A gente se faça entender...
Mas seria sutil diferença
O calado da presença.

Alguns estão aqui não estando,
Outros se ausentam ao lado
Como itinerantes fardos
Ficados para trás quando
A vida esvaneceu.

A gente sabe que amadureceu
Se a dor acentua a raiva
De nada poder fazer para
 Atenuar o desespero
De não mais sofrer.

Se você entendeu o paradoxo
É porque amadureceu, assimilou
 As dores a ponto de esquecer
O quanto doíam antes
De não ser.

Epânodo


As mãos cruzadas
Sobre o peito
São as mesmas que
 Tricotaram vidas,
Cozinharam pamonhas,
Apontaram erros...

As mãos agora inertes,
Sobre o peito hirto
Não respiram a mesma
Sensação de força
Daqueles momentos
Decisivos...

As mãos no peito
Morrem com o que
Esvai-se no esquecido
De tantas obras feitas
Entre tantas outras,
Inacabadas.

As mãos cruzadas
Descansam a diária labuta
De oitenta e tantos anos
Resvalados nas cicatrizes
Ainda tão doídas,
 Abertas na alma.


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