quinta-feira, 2 de janeiro de 2014






A pipa


No tempo do eu menino
O vento era companheiro
Das jornadas vespertinas
Depois das aulas escolares
As aulas da vida...

Fazíamos cola de farinha,
Linhas dos carretéis azuis,
Papéis celofanes,
Uma miríade de acertos
Nas aulas da vida...

Depois... Bem depois
Pensando tempos idos,
Percebo que as colas
Não enfarinham tanto
Quanto os celofanes

E a pipa ainda voando
Na imaginação do vento
Perpetuando a infância
Deixada emborcar a ara
Dessas vidas.




Convivas

Visto que não mais
Viveremos o ontem
Acaricio este momento
Onde o passado esmaece.

Somo horas vencidas
Lembro manjedouras,
Algumas rixas de moleques,
Uma vassoura piaçaba,
Um porco gritando o medo
Ao ser pego para o corte...
Coisas passadas que voltam
Com as canções natalinas
E uma reza compenetrada
Antes da ceia

A critério dos mais velhos,
Religiosamente obedecidos
Como se fora o certo sempre,
Mesmo sem sentido.

Tudo nos conformes,
Ano a ano a mesma encenação,
Sento sobre meus preceitos,
O passado está dormido
Nessa nova eira de meninos
E de futuros rezadores
Fica o grito desesperado
Do leitão feito conviva
Sem ser convidado,
Antes da ceia.
Turfeiras

Mentira
Quando falam na melhor idade...
Carbonizados como velas gastas
Gastamos mais combustível
Para menos rendimento...

Mentira!
Nessas filas prioritárias lembro
A prioridade em outras filas,
Das dores dos membros vencidos,
Da flacidez dos músculos...

Mentira
Quando nos fazem ver a idade
Entre uma faixa e uma buzina,
E os apressados empurradores
Ladeira abaixo... Mentiras!

Turfeiras
Mais ou menos encobertas
Nos fazem caminhar
Nesses círculos calcinados
Pelos tantos fogos extintos...

Almas plenas,
Corpos cansados, suores frios,
Nervos retesados, dormentes,
Doídos no acordar do senso
Entre cobertas e sonhos.

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