domingo, 6 de abril de 2014



Fastígio


Quanto pode o momento
Perguntar se estamos bem?
Se estamos resmungando dores,
Estão-se perdendo amores
Que se vão... Não literalmente,
Mas se abastam sentimentos
Que subsistem à morbidez
Das idades cansadas
De não ser.

Quanto pode o dia perguntar
Pelas manhãs sem sol...
Apenas a agonia de ver passar
Cada chance de descodificar
As manias deixadas ficar
Na artimanha de chorar
Quando o riso é impossível...
Mas não a lágrima.










Já vi pais entristecidos
Por meras estripulias
De crianças em adultos
Ainda sensíveis...
Vi-me nessas macaquices
Como fora outro tempo...
Da meninice teimosa.
Vi-me ali todo prosa, embora
De suspensos não saberes,
Do que aconteceria
Pelas tardes... Pelos dias...

Por que a vida não sabe
Das vidas não vividas
Durante as corridas loucas
Dos dias de ambições?
Nos quadrilhões desses dias,
Aqueles de vivência acesa
De percorrer caminhos tortos
Pela própria torpeza.








Sim, procuramos luxúrias
Em cada baixo de mesa...
Sim, procuramos planuras
Nos sonhos deixados correr
À frente das realidades
Difíceis de acontecer.
Por que então não voltamos
Antes dos amanheceres,
Quando inda era forte
A braçada e pernas ligeiras?


Por que fomos tão famintos,
De tantas fomes distintas
A cada fundo de algibeira?
Pela imatura incerteza voamos
Sem asas, apenas com braços
Estendidos à frente dos ombros
Abaixo das galhadas grossas,
Voamos nossos  sonhos
Se fora eles verdades,
Descobertos, embora tarde,
O virtual desprezo.





Por que então não voltamos?
Talvez por ter perdidas
As pegadas do antes,
Pensadas não ter depois.
Mas chegamos, aqui estamos,
Aos pares, ímpares ideias
De sonhar ainda tardos
Arremessos desvairados.
Porque chegamos ao vértice
Sem o ter dobrado.
Talvez, apenas talvez,
Desobrigados de ser.

Os sonhos têm mil defeitos...
Mas é preciso sonhar
Para poder vivenciar
O que seria a ser feito.
Quanto às fomes,
Nos corroeram vontades,
E voar ficou impossível
Pela própria impossibilidade
De caminhar inda eretos
À frente daqueles sóis,
Deixados desacontecer
O âmago de todos nós.

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