quinta-feira, 8 de maio de 2014







Calos d’alma


Com seus calos n’alma
Voltam jovens que viajaram sonhos...
Já passaram pelos meus momentos
Outros viajores navegando tempos...

Vejo-os sorrindo tal contentamento
E invejo à força seu desprendimento.
Tudo passa e passou o tempo
Dos que viajaram jovens sonhos.

Retornam tanto mais experientes,
Nem por isso deixam de sofrer
O tempo por alguns maus tempos.

Eles voltam ilesos, ainda assim lesos,
Como os que ficaram, protegidos,
Só que, mais que estes, inda vivos.



















Utopismos


Eu tive uns olhos esperançosos...
Mas a vida embaçou-os, alhures.

O que sobrou daqueles olhos tolos
É a saudade desses tempos puros.

O que prestou, prá deixar saudade?
Foi a esperança de um vão futuro.

E os meus olhos, lacrimados, puros,
Choram a realidade de tempos duros.

Tempos calosos de queimar miragens,
Chegada a hora de saltar o muro.

Mas guardo olhos inda esperançados,
Revendo planos para o tal futuro.
















Ausência no olhar


Os que estão longe
São sempre os ninguém.
Assim que passam a linha
Imaginária do olhar,
São reconhecidos pares.

Os longe, os ninguém,
Salvam-se de seus males
Pelo turvo da imagem,
Assim que passam a linha
Imaginária de cegar.

Esses longe, quando perto,
Abanam gestos de paz...
O que mais? Um poema,
Da dor dita sincera,
       Se traída no olhar?



















Subconsciência


Ouço já, que bate à porta,
Um imaginado suor de lágrimas,
O momento tenso me diz
Da forma oclusa de dizer nadas...

Ouça, que já bate à porta
A fereza do menino, moço capaz
De infinidade de senões e ais
E um sorriso tímido, talvez um riso,

Fala-me dos acontecidos entre
Mim e eu, um extenso descaminho
De imagens e miragens passadas,

Um extremo caminho de saudades
Que ferem as têmporas cansadas
E fazem-me capaz de dizer adeus.




















Arrebóis


A sombra de dentro,
Cingida à sombra de fora,
Forma um compadrio.
O sol já se pôs e
A luz trêmula da lamparina
Desenha sombras alongadas...
Assim a vida,
A de dentro, dos silêncios,
A de fora, dos chilreios
De pássaros festando
À luz do sol.

Ambas cingem-se nos arrebóis
Das tardes silenciosas.






















Intuições


Palpando o silêncio
Encontrarás uma urna
De tentos e intentos,
Arrumados no fundo dela,

Desde o nascimento,
O flanar da vela,
Cada enternecimento,
Do negro à amarela...

Palpo e perscruto
Entre dedos trêmulos,
A voz abafada...

Ouça a urna gemendo
Sua dor dos tempos,
Plena madrugada.

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