quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Agora, o que a política e a honra nos indicam, é outra coisa. Não
busquemos o caminho de volta à situação colonial. Guardemo−nos
das proteções internacionais. Acautelemo−nos das invasões econô−
micas. Vigiemo−nos das potências absorventes e das raças
expansionistas. Não nos temamos tanto dos grandes impérios já sa−
ciados, quanto dos ansiosos por se fazerem tais à custa dos povos
indefesos e malgovernados. Tenhamos sentido nos ventos, que so−
pram de certos quadrantes do céu. O Brasil é a mais cobiçável das
presas; e, oferecida, como está, incauta, ingênua, inerme, a todas as
ambições, tem, de sobejo, com que fartar duas ou três das mais for−
midáveis.
Mas o que lhe importa é que dê começo a governar−se a si mes−
mo; porquanto nenhum dos árbitros da paz e da guerra leva em
conta uma nacionalidade adormecida e anemizada na tutela perpé−
tua de governos, que não escolhe. Um povo dependente no seu pró−
prio território e nele mesmo sujeito ao domínio de senhores não
pode almejar seriamente, nem seriamente manter a sua independên−
cia para com o estrangeiro.
Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira! Nobre na−
ção explorada! Brasil de ontem e amanhã! Dai−nos o de hoje, que
nos falta.
Mãos à obra da reivindicação de nossa perdida autonomia; mãos
à obra da nossa reconstituição interior; mãos à obra de reconciliar−
mos a vida nacional com as instituições nacionais; mãos à obra de
substituir pela verdade o simulacro político da nossa existência en−
tre as nações. Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa.
Rui Barbosa

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