terça-feira, 30 de dezembro de 2014



A procura
Do livro Contexto para 1/1/15

O que procurar no poema?
Talvez a dor de te-lo produzido...
Talvez o riso, outro motivo...
Peço-lhes que procurem,
Como num espelho,
A sua versão do poema...
Talvez a dor ou o riso
Independa do que o escrito
Tenha por dito.

O que procurar no poema?
O sentido dentro do meu sentido.
Talvez o sexto sentido embutido
No não sentido do que
Fora dito...
Mas, cuidado, podem encontrar
No poema a entrelinha,
A versão não existida...

O que dizer ao poema?
Diga ao menos um bom dia.
O bom retorno que não diz
As paradas e experiências
As manadas de deficiências
Nunca arguidas...
Talvez a vida!
O que procurar no poema?
O que deixou transparecer
Entre o visualizador
E o mostrado na dor
De te-lo vivenciado.

Então peço que procurem,
À luz da lanterna,
O seu motivo, o sangrado
Motivo de desmotivar
O indeciso.

O que procurar no poema?
A atualidade da dualidade
No que tereis por lido
E compreendido... ?
Nunca compreenderá
Totalmente o não dito,
Apenas sugerido na palavra
Que chorou a lágrima amarga
Do desvivido.

O que procurar no poema?
Além do riso e da dor,
Além da espera e esperança
A desesperança de esperar
Tanto...
E voltar de mãos vazias
Para o mesmo dessentido.

O que procurar no poema?
O que esperar do poema?
O espremido saber que
Nunca foi escrito. Apenas
Descrito das eras vividas
Antes disso.
Uma vez escrito há séculos
Ainda soa atual hoje
No entender dos “entendidos”.

Não, não é preciso entender
O que quis dizer o dito
Se não dito a tempo de sorver
A educação do ouvido
Saturado de problemas
Esmaecidos. Então, por quê?
Porque se deu ao trabalho
De fixar a vista, cansada,
Nesse lixo?

O que procurar no poema?
Apenas o trigo no joio
Que se espalha ao vento
E torna-se mesmo o lixo
À porta do improviso.
O que saber do poema?
Se não a colha do trigo...
O pão resultado disso
À fome do faminto...

O que procura no poema?
A tua dor? O absinto?
O choro mais duro do outro?
Então vira a página,
Esqueça-se nesse quesito.
A tua dor, meu amigo,
Não me diz respeito, mesmo
Que eu tenha a ver com isso.

O que procura no poema
Está no teu não vivido!
Volta ao teu âmago,
Ao teu chão, ao teu riso...
Talvez aí encontre
O que pensa perdido.
Não no poema, que traz
A outra face da dor,
O outro motivo do riso.

O que procura no poema
Está bem perto, na soleira
Da porta de tua pasárgada.
O que procura no poema
Está no teu viver vivido
Entre as conversas que cala
A cada vez arguido,
Embora não saiba disso.

O que procura no poema
Está na rua em que caminha
Mastigando o almoço
Mal digerido como a palavra
Ouvida de relance
No carro de som, que
Também não tem a ver
Com tudo isso.

O que procurar no poema?
O outro sentido para a dor,
Para o riso, para o sabor
Do tempero no destempero.
A morte, o nascer de novo...
O ressuscito das vezes
Em que se viu perdido...
Talvez, apenas talvez,
A minha dor no teu riso.

Sergiodonadio.blogspot.com

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