domingo, 25 de janeiro de 2015



Eu e os abandonados
Do livro cotidianos

Eu e os abandonados da cidade
Estamos na praça da matriz.
Parece que só eu os vejo ali,
Por isso me olham e me vêm,
Dando um leve oi com a cabeça
Continuam
A sua tarefa de nada fazer,
Nada sonhar, nada querer.
Passam carros com pessoas
Que não nos vêm...
Acho perfeito o momento,
Invisível...
Seria pior ser visto
E ter que ter resposta
A cada curiosa curiosidade
A respeito do tempo
Ou do governo,
Do morto e do vivo,
Todos incompreensíveis
Para meu fraco entender
De coisas e pessoas
Sadias.

Sergiodonadio.blogspot.com

Tardes no Rio de Janeiro


Passamos a tarde
Admirando a arte do museu.
Saímos, o carro não estava...
-Fui roubado!
-Não. Diz alguém, foi guinchado
Pela prefeitura,
Recolhido à garagem como
Se estacionado em proibido.
Mas não era isso,
Tanto que não haveria multa,
Apenas o valor do guincho
E a diária passada lá...
-Quer dizer: Fui roubado
Nesta cidade já cheia
(em todos os sentidos)
De bandidos, pela autoridade!
Desconsoladamente frágil,
Enquanto isso no jornal do dia
Os tantos homicídios e suicídios
Não solucionados...
Não registrados...
Esquecidos.



Correntezas


A vida passa muito rápido...
Sem tempo para viajar
O que seria aceitável ser...
Sem tempo para sofrer
O que é inaceitável sofrer.
Sem tempo para viver
O que seria bom viajar...
A vida passa num ápice
De tempo evoluído
Ou involuído,
Cabendo num trecho
O desmerecido merecer.
Indontem voamos sonhos,
Estivemos com mulheres
Que já envelheceram,
E envileceram conosco,
Cutucamos nossos algozes,
Que também se cansaram.

A vida assim tem parêntesis
Entre sonhos e acontecidos
Viver ferinamente
Atos de conhecer-nos
E desconhecidos passos
Dados ou deixados ser...
Passou-se o tempo de pensar
Futuros trechos a percorrer,
Apenas olhar o percorrido
E tecer requisitos...
Ser, como manda a norma,
Respirar, como não pode deixar
De,
Superar as asfixias e seguir
Sem pensar no que perdeu-se
Por olhar para trás.
A vida é simples demais
Para apenas calcular os passos
E ficar esperando acontecer.

A vida é correnteza,
Ou nada a favor
Ou morre tentando voltar
À nascente outra vez.
Melhor esquecer nomes,
Apelidos, datas,
Invisíveis promessas...
Apenas seguir o rastro
De todas as pegadas
Do outro, à sua frente.
Apenas viajar no tempo
À sua frente...
Apenas viajar o que seria
Aceitável ser, e ser
O que seria aceitável viajar
Outra vez.


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