terça-feira, 27 de janeiro de 2015



Convexo


Para o bebido no balcão aberto
O mundo lá fora é convexo
Como o mar ao marinheiro,
Como o infinito ao descrente
Que varre as coisas sujas,
Pensando o teto aparente.

O velho poeta dizia do inusitado,
Supria de rolhas garrafas vazias
E um ditado que as vazias almas,
Que um velho frade exprimia
O lado ruim como certo, assim,
Certo lhe fazia.

Mas o tempo, como o mar, visto
Da praia, é convexo, embora
Reto em que o olhar tem por si,
Bebido no balcão daquele bar,
O mesmo olhar que a religiosa
Presa ao claustro teria.







Pintura


À margem desse erro
Tingi as barras
De um desterro ainda fresco
De tinturas outras...

Quem fornicou a bela,
Que engravida tanto
Quanto
Minha aquarela
Em pranto?












Espera
                               Aos baleados
Do livro convexos

                     A mãe que espera filho
Espera-o são, rijo, sorrindo...
A mãe que espera um filho,
Vindo do ventre ou da guerra,
Espera-o cria nova, sempre
Outra vez o parindo.

A mãe não quer um filho
Pra rua dos esquecidos,
A mãe quer que seu filho
Seja o mais bem vindo
Dos outros da mesma
Rústica esteira.

Sendo a vida esta guerra
De rua, escola, destreza,
De alegria ou tristeza,
Ou que o mundo afronta.
Para cada mãe que espera
Há uma lágrima pronta.




Carrinho de mão


Depois de tanta evolução
Vejo o jardineiro com seu carrinho de mão
Como nos tempos passados...
Lá dentro a criança brinca no computador
Não mais na terra arada do jardim plantado.

Depois de tanta involução
A criança perde o espaço no jardim
Para sentar-se frente a esta tela
Inacabada
E não mais sorrir das coisas leves.

Depois de tanta volição
Alegra a criança vir desse jardim
Trazendo nas mãos uma flor
E os pés sujos da terra semeada
Que replanta ideias outra vez brotadas.



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