quarta-feira, 4 de março de 2015



 Povaréu

É isto que o povaréu quer:
Sangue pros quatro cantos,
Alguém trucidando um velho
Por ter achado ruim
Mijarem no seu portão.
(Urina destrói ferro)
É isto que o povaréu quer:
 O peso da mão juvenil,
Com seu vigor treinado
E a vacância de cérebro.
O tempo fará ver o contrário,
mas leva tempo...
O senhor idoso tem pouco.
É isto que o povaréu quer:
Ver polícia morrendo
Na defesa do bom cidadão.
O trote telefônico
Brincando de incêndios.
A ocupação dos espaços
Ao inverso da lei,
A desrazão da razão
Pelos meninos imberbes
Livres de prestar contas.
-É isto que o povaréu quer?


No dia a dia
As pessoas não se amam,
As pessoas se precisam.
Tenho impressão que na rua,
No shopping, restaurante,
Caminhando junto
Olhando o infinito...
Mas nos hospitais
Elas se olham e se veem...
Por que?
Porque ali se precisam,
Seus olhos brilham,
Fixam-se no outro,
Socorrem o choro...
A dor...
O momento fragilizado
Do desabrigo.










É-nos difícil perceber
Que o amor requer
Alguma distância.
Se chegarmos muito perto
A animosidade aflora
E seremos tragados por ela
No momento da raiva,
Do ciúme, do não!


















Passa o perneta
Suando passos tortos.
Olhando sobreombros
Todos temos defeitos,
Uns não transparecem,
Outros se mostram.
Alguns de nós
Não querem ver o maneta,
O estrábico,
Fieis ao etilo fantasia.
Mas todos sabemos
Que é assim a multidão,
Uns escondendo-se,
Outros evidenciando-se...
Mas todos caminhando torto
De algum modo,
Mesmo os que não admitem
A dor.





po·li·chi·ne·lo


1. Títere, boneco ou  ator que representa geralmente uma personagem .cômica, corcunda, de nariz comprido e barriga proeminente.
2. Pessoa ridícula.
Ou simplesmente a pessoa comum,
Encaixada em algum desses itens,
Ou em todos,
Sabidamente em algum momento
Somos todos bobos o bastante
Para suprir derrotas, cumprir
Com nossas desculpas de não saber...
De não seguir,
De não pisar na merda...
Apenas assistimos à dor
Tomar conta do outro.
A derrota é não saber quando, quanto
Ou por que
Estamos rindo de nós.





Nadadores


De braços cruzados
Tentam salvar do afogamento
Um nadador com câimbras...
Gritando melhoras,
Gesticulando pernas
Sem sair do lugar, apenas
Querendo fazer a força
Das vontades
Agir entre as ondas
E trazer de volta
O nadador desprevenido
Disto
Que é a força desse mar,
Desse rolo de asfalto,
Dessa turba de protestantes
Pelo salário, pelo vale,
Pela bolsa...
Mas o larápio é sempre ágil
E prometerá ao nadador
Ser salvo.

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