domingo, 15 de março de 2015



Miudezas insolúveis


Passam para mim a bola,
Cheia de problemas,
Devolvo com a mesma sem vontade.
Somos todos maus jogadores,
Reservas,
Mal colocados em nossas posições
De reservas,
Pegamos a bola jogada,
Ela ferve,
Devolvo e passo adiante
Problemas insolúveis
Nesse jogo de contradições
À miúdo...










Quando eu era tímido


Quando eu era tímido
Não tinha lugar de ficar,
Era olhar para mim e eu gaguejar.
Agora já falo comigo,
Contigo,
A certa distância...
Com alguém pra perguntar
Endereço, preço, condição...
Quando eu era tímido
Tinha apego à solidão,
Que não era solução.
Com meus amigos: lápis, papel,
Pensamentos,
Lembro-me do tempo de quando
Eu era tímido... 
Avoado... Das coisas de viver
E ser.






Olhos


O olho que vê coisas
Além da pupila
É o olho da alma,
Talvez das almas
Contidas nessa esfera
Desregrada...
Sobreviva das tantas dores
Nas pernas, na cabeça...
Nos braços sem abraços...
Cansados de adeuses.
Olhos que se enviesam quando
A dor é maior que o riso, e,
Portanto,
Mais forte que o sentido.









Os falhos


O que foi feito
Será refeito
Pra ficar bem feito...
Você não acreditou na teoria,
Que na prática seria repetida.
Em algum ponto da estrada
Haveria, e houve,
Uma bifurcação.
Você não acreditou no que seria
O certo,
Você apenas sorriu e agradeceu.
Agora, o que foi feito
Deverá ser refeito
Para tentar o perfeito
Numa era de desocupação
Dos falhos.







Cremados


Na cinza comum aos mortos
Identifique as suas...
São todas tão iguais!
Suspira tua última derrota:
A pilha de ganhos e guardados
São postos fora
Porque
Você, com suas cinzas,
Cabe num cantinho da memória,
E não vasa, não explode,
Não se rebela, nem pode.
Na cinza comum dos mortos
A parte que te cabe é ínfima,
Desnecessária de guardar,
Ou jogar fora.








Desistências


Na verdade da mentira
Se esconde o tempo...
O que faria, não fosse o dia
Chuvoso
E uma espera que seque o tapete,
Para voltar?
(uma vez tive ideia de fazer
Um barco de ir embora.
O tempo passou, o barco não saiu,
Estou planejando até agora).

Mas tudo passou depressa,
O barco, a chuva,
A mentira da verdade...
O tempo é franco demais
E não espera reconstruir barquinhos
De papel
A cada vez que a rua forma poças
E enxurradas,
Passa rápido a vontade de ir,
Vige apenas a desistência de ficar.

Sergiodonadio.blogspot.com

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