quarta-feira, 15 de abril de 2015





Na crista da serra


Nesse cantinho de mundo
O jorro no balde acorda ouvidos
Que o som d'água, esquivo,
Enfim se aplaina à manhã,
         Ainda penuriada...

Uns homens de manta alva
Cortam folhas das grossas palmas,
A mulher enrugada põe à mesa
A carne do bode, inda amigo,
         De rica pobreza...

De quando em quando um ganir fraco
Põe a saber que o cão inda vive
Escondendo-se na balaustrada,
Que a vargem cobre, ressequida,
        Como a vida.

O que seria afago é a mão em riste
Que corta da cana a água braba
E da cisterna a suja lama...
Tem nada não, camarada,
        Ele resiste...

Quem sabe o dia inverne, é tempo...
E solte, mais que gotas, vidas
A este cantinho de fim de mundo
De famélicos artistas auscultados
           Pela mão vivida.

A cada dia, nesse campo morto
Renasce como ressuscita um cristo
Uma criança em tal desconforto
Que treme frio em sol a pino
          De extrema lida.

Aqui se farta de fartura pouca
O ralo grão que, se vai à boca,
Não reconforta a fome fátua
E a sede de tantas outras águas
         De lama pouca.

E som da água, enfim conforta,
A mão em riste, enfim, afaga,
Nesse cantinho esquecido,
Tem nada não, camarada,
         A vida insiste.

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