sexta-feira, 17 de abril de 2015




Inócuos


A cada vez
Que a pedra bate
Na água
Expande a sua imagem.
A cada vez
Que o homem
Parte,
Expande sua imagem.
Mas,
Nada disso muda
A paisagem.











Esperanças


Não se iluda,
Companheiro...
Tudo
O que se passa por futuro
É a mesma forma
De escuro,
Vivido antes no passado
Dia feito obrado
Cansaço...
Não clareia a faina,
A luz opaca apenas
Esgarça
O que te anima
E passa a ser
A mesma sina.






À luz dos castiçais


Este céu carrancudo
hoje
Denota a tristeza do dia,
Do quarto vazio
Fecham-se cortinas,
Emana um gosto cinza
Nas velas terminais...
Apenas uma voz penitencia
Em oração
À luz dos castiçais.













Contemplativo


Em meio
Ao compungido choro
Das filhas
Um menino, absorto,
Mastiga uma pera madura
E se distancia...
Do velório, em pensamento,
Está longe...
A ideia do nunca mais...














As vidas vividas


Abotoo meus sonhos
Nessas mãos invisíveis
Costurando remendos
De todas as vidas...








Desconstruídos


Somos todos argamassa
Para a construção
de novos seres:
Pedra, areia, cimento, raça.




Credos


Mantenho esperança
No abrimento à luz
Desse sol.
Amanhã a manhã
Acordará nova,
Tenho esperança,
E ouvirá os pássaros
E a criança nascitura
Nos seus cantos de vida.
Tenho esperança
Na balburdia das crianças
Nas escolas...
Tenho esperança
No buzinaço e
Nos sons estridentes
Dos moços pelas ruas...
Tenho esperança
Na valsa dos idosos...
Mantenho esperança
Na fé dos rezadores...






Tenho esperança
Na desconfiança dos ateus.
Que todos,
Lidos e relidos
Os evangelhos,
Tomaram suas decisões
De crer ou descrer.
Tenho esperança nisso,
Pela desavença pacífica
Dos credos.













Em carne viva
Do livro Pinturas

A dor das almas não se cura
Com antibióticos.
Com pílulas de paz talvez...
De compreensão de cada mal
Rasgado em carne viva.
Seria o certo discernir
Do nada provado placebo
Mandando ingerir aos poucos
A cada desmaio convulso,
Provocador do mal absoluto.

Em carne viva sofre esse carma,
Tanto o convulsivo
Quanto quem o trata
Nessa vivência intercalça
De momentos sãos.
O que poderia perenizar momentos
Senão a confiança de ser normal
Descer-se ao limo e voltar,
Cada vez mais a medo?

De esse estar mal no momento
Em que se está bem, frente
A cada lance extroverso,
Cada expressão na face
Desfigurada na baba,
No desacordar na rua,
Deitando pelas calçadas
Sua dor aguda
De não ser, no instante,
O mesmo que condoeu-se antes.

Em carne viva a ferir-se faces
Arranhadas , dissecados
Pelos doutos como mais um
Entre tantos desmaios...
Seria ruim saber-se são?
Seria falso ter-se à vida
A impressão de temê-la sempre?
A dor se dissipa, torna-se alívio
o que seria credor de vida.

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