sábado, 18 de abril de 2015



Suspirações


Os pensamentos voam longe
Mas não saio do lugar
Estou aqui plantado
Tanto quanto a quaresmeira
Tentando subir os degraus
Dos muros.
Meus degraus inacessíveis,
Plantei-me aqui em definitivo
E meus pseudoamigos riem
Do que não digo.
Não sei viver-me, sento-me
À beira da piscina
Vendo minha neta sacolejar
Lá dentro, fazendo algo que,
Sei, nunca farei. Dizem que
Porque respiro errado...
Talvez seja a explicação para tudo
Que não sei fazer,
Respiro errado até quando penso.
Assim, no vou a lugar nenhum de meus sonhos,
Plante-me aqui,
Mas, satisfaço-me nisto.
Servidão


Penso nas pessoas que me servem.
Em como servi-los de volta
No mercado, no açougue cortando
Peles e ossos da carne que compro.
Na consulta médica, farmácia,
Cortando a carne que é minha,
Que me veste e está
Enferidando ao sol.
Penso na serventia dos objetos,
Da paisagem ao redor...
Não penso no brilho do dia,
Que vem de longe,
Ou no silêncio da noite,
Que desacontece às onze.
Penso nas prateleiras das vitrines,
Nas virtuais não, nas reais,
Que guardam minhas calças,
Minhas ideias...
Penso em como todos
Me servem favores
E como servi-los de volta.


O sol de ontem


As pessoas gritam ao lado teu
Tentando viverem-te.
Pensando-se vivas
Apenas porque respiram.
Não sabem que morremos ontem
Antes de tirar a barba,
Tomar banho,
Esquentar o pão na chapa...
Fazendo tudo igual anteontem
Quando nos desamamos...
Fazem tudo repetidamente
Até que não saibam mais
Se o estão fazendo outra vez
Ou apenas relembrando...
O que deveriam evitar
De fazer de novo.
De novo apenas o dente caindo,
Desgrudado de vez o último...
Pensam que faz algum sentido
Estirarem-se e esperarem
Voltar o sol de ontem.


Sinceramente


O sincero bicar do pica-pau
Na dura madeira,
Do beija-flor no açúcar,
Da abelha no pólen,
Do gavião na carne viva,
Do urubu na carne morta,
A sinceridade dos amores naturais
De todos eles,
Como do pênis rígido
Declarando amor...
Mais que outros gestos
Ou buquês, anéis, juras...
Juras de sincera necessidade
Das fomes animais
Sobre seus predados
Ou amados
Nos sinceros bicares
Vários...





Assonia


Seria preciso na insônia noite
Sentir os perigos da dor
De não dormir, correr corredores,
Pensar desamores...
Uma paz desconhecida para esses,
Que pairam entre a senilidade
E a aspereza aos senis...
A decrepitude dos pensares afetos,
A leniência das mãos pesadas
Sobre os fracos...
Seria preciso mais que pena,
Consciência,
Mais que lavor... Amor...
Mais que cuidador, cuidado.
Acuidados de serem guardadores
Da insônia noite dos que
Dormem acordados.






A rosa murcha da paz
Do livro Pinturas Edit. Amazon.com

Assombra
A vitalidade dos guerreiros...
Estão por toda parte,
Nas torres altas derrubadas,
Nas meninas sequestradas,
Nas bombas discutidas
A quem se dê o direito
De com elas ameaçar-nos...
A rosa da paz está murcha,
Desencantada com a ferocidade
De nós, donos das verdades
Mentirosamente urdidas
Nas palavras... Na palavra!
A paz se desintegra no fogo
Das alvoradas pérfidas...
Nos fundos dos vales,
Nos corpos recolhidos,
Nas almas desalojadas
A vida de porvindouros
É vida ida.

Sergiodonadio.blogspot.com



Que Deus faça


A estranha chegação de alguns males
Fica inexplicado...
As vilas da cidade com suas ruas
Apagadas
Com lamparinas em suas casas
E latas d’água das cisternas
E riachos/esgotos...
O que se faz com as pessoas
Dessas vilas
Que batalham saídas e chegadas
Sem nem pensar para aonde?
O que se desfaz nas pessoas
Suadas nessas ladeiras?
O que se dispõem a tirar deles
Ainda, além da camisa rota?
A fé na esperança?
O olhar lustroso das alegrias
Da infância!o que se está fazendo
Aos filhos de Deus, Deus faria?

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