quinta-feira, 28 de maio de 2015



Motivos


Não faço versos verborrágicos,
Cotidianamente versifico
Cotidianos versicolores,
Vestindo dores despercebidas
Eu verso a vida.

Não vendo versos versificados,
Não metrifico nem centrifico,
No verso idílico apenas fico
Idiossincrásico, idiomático,
Mágico idílio.

Eu vejo versos por onde passo
E com seu passo me pacifico
Às vezes amargo, às vezes vário,
Nem sempre doces ou agridoces
Com os das feiras.

Não faço versos por brincadeira
Nem é esta a vez primeira
Que com eles me gratifico,
Não com dinheiro ou por ofício,
Faço versos gratuitos.





Se puder pensar
Que possa haver consolo
Procurarei pelo que vai
Embora...
É chegada a hora dos adeuses,
Sem mais choro,
Apenas sabendo
Que chegou sua hora.












Os mortos caminham devagar

Os mortos caminham
Devagar.
Nem dá pra se notar o quanto
Nessa miríade de espantos...
Seria preciso auscultar
O pranto
Para sabê-los assim
Sofredores
De ter morrido por caminhar
Entre moribundos
Devagar...
Mortos antecipados
A caminhar juntos
Par a par.








Madurescências
Do livro Viandando


As coisas maduras
Invertem os valores,
A pá, a colher,
As formas de amores...
As coisas amadurecem conforme
Convivem com as outras coisas:
O menino, a menina, o garfo, a colher,
A mesma cisterna a lavar tantos pés...
Que envolvem as verdades
Mentindo passagens
De um tempo andado
Entre o pronto e o aprontado.
As coisas maduras tiveram
Cores diversas...
Da cor da inocência à cor do pecado.
As cores maduras são filhas
Dessas cores diversas.
Entre o branco da flor do cafezal
Ao preto do café coado, madurado,
As cores têm tanto futuro
Quanto passado.

Sergiodonadio.blogspot.com

Horas moídas


Outra vez moídas as horas
O cansaço de ir
Por ficar implora à dona do mundo,
Como que por esmola
Um canto seco sob a chuva cortante.
Outra vez, moídas as horas,
O pensar volta-se ao instante
Sob águas debruçadas sobre o tanque,
Emergem daí novas vontades:
A vontade de ir
Sem ter de ir embora...
É ausentar-se sentado à mesma mesa,
Pensando avoado as aventuras
E a paz de tê-las vencido
Por ventura da outra longevidade,
A da vida madura.
Dessa vez o sono repara o cansaço,
Há tempo de sobra sobre
O cadarço da bota escura.
Aqui, outra vez a mesa está posta,
A fome é que não volta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário