domingo, 19 de julho de 2015



Das horas amargas


Na fuga das horas amargas
A tensão se alastra aos bastidores
Aqui todos os escuros são tétricos
Todos os gemidos são sustos
E uma teia prende as moscas
E os pensamentos ao medo,
Eles se batem, se enroscam
Nos sentidos acesos à hora...
As horas tornaram-se amargas
Pelos mementos vividos
Além das prioridades do sentido.
A viagem penosa é necessária
Para a visão acima das nuvens
Inventadas escuras...
A psicologia desvenda as bases
De as horas serem amarguradas
E o sentimento de impotência
Agarra-se à teia, lutando com
Moscas e pensamentos
No desespero de causa.



Dragas


Empurram rio acima
Todas as cargas,
Com elas as despedidas...
O choro amargo da partida
Entre sacas alinhavadas...
E vidas.







EXPLIQUE-ME, POR FAVOR,
O QUE É PRECISO FAZER
DA VIDA QUE JÁ SE FOI
AQUILO QUE NÃO SE FEZ....






Essas manhãs de inverno


Nessas manhãs de inverno,
Garoadas de frio gelo,
O que pode ser verdade
Na mentira dos pintainhos
Acordados logo cedo?
Na mentira dos motores,
Uivados de não pegar,
Nas folhas esverdeadas
O chão lívido do lugar...
Um coro de madrugadores?
Difícil não acordar.
Nessas manhãs invernais
O que tira cedo das camas
Esses batalhadores?
A luz de um sol raquítico
Dizendo pra não esperar
Que venha um calor fático
Aos outros tentar acordar.








Nas manhãs de frio intenso
Com vontade de não ir
Ao encontro do Lácio
No tempo inda por vir,
Quando o pio dos pintainhos
Vara a fome por ficar,
Que o tempo enevoado
Força o ser a se deitar
Pelas mentiras do dia
Que teima em nevoar...
As ideias dos idas idos
Sonhar os sóis de verão,
Da preguiça de verdade
Própria de cada estação.









Esplendores


Quando te deitas,
Não diga que te deitas...
Diga que vais dormir,
Que é o que fazes na cama,
Onde não lês... Não dialogas,
E esse sexo espaçado
Te põe medo de morrer
Antes de teres morrido.
Quando te deitas,
Finja que já dormistes
Quando alguém te procura
Para contar-te agruras,
Queixas de não dormir,
Não fechar olhos vivos...
Na espera do inativo
Que já pusestes dormir.







O cansaço do tempo


Deixado correr entre tarefas,
As crises são todas existenciais,
A cor da verdade não tem pressa
No tempo deixado passar...



















Jusante


Onde as pedras volantes
De ferro gusa?
Ausentes!
Onde as onças e as manadas,
Equilibrando as vidas?
Ausentes!
Onde as banhadas de peixes
E mandiocais dos índios?
Ausentes!
Onde os perobais gigantes
E as jabuticabeiras naturais?
Ausentes!
Onde as vidas passadas,
Nessa jusante inundante?
Ausentes!
Ausente a fauna da vida
Se ausentará nossa vida
Restante.





De onde vem?
Do livro Abrigos

Bem que eu gostava
Das coisas simples da infância,
Mas elas se foram tão cedo...
Nunca armei arapucas,
Nunca construí estilingues,
Tive compaixão pelos bichos,
Reconhecendo a grandeza
De suas fraquezas frente
O ardil humano...
Gosto de tangerinas no pé,
De jabuticabas no pé,
De manga, pêssego, no pé...
Agora vem tudo empacotado
E as crianças nem cismam
De colhe-las no pé.
Mas continuo gostando
Das coisas simples da infância,
Que se vão tão cedo...

Sergiodonadio.blogspot.com

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