terça-feira, 21 de julho de 2015



Onde havia flores
Do livro Abrigos


Gostaria de ter a paz
De me buscar nas leviandades,
De me pegar pelas mãos
E dar em alamedas geométricas
À procura do canto de sabiás...
Pelo som das alamedas.
Mas estou aqui, nesse lugar
Sem jardins, onde andorinhas
Cantam nas antenas de TVs,
Desavergonhadas de conviver
Com o alarido dos homens
E seus motores, e seus gritos,
E seus britadores, construindo
Mais e mais paredes onde
Havia flores.

Sergiodonadio.blogspot.com









Talvez fosse de pedra
O primeiro homem,
E perdeu-se
Ao desalterar-se
Em sentimentos...







Quando o viver
Baba por finitos
É hora de assomar
Espíritos...







O arador


O peão com seu arado
Parece imponente no quadro,
Na verdade o modelo, suado,
Desvia-se de um ninho de cobras,
De um formigueiro brabo...
Mas isso não aparece na pintura
Que mostra o sol poente
E uma linda névoa serpenteando
O rio, o cão ao lado não estava ali,
São aparições póstumas
Que o artista concluiu que haveria,
Ao lado do roceiro seu cão...
Mas não, ele prefere um corote
De água fresca e a palha
Para o fumo da hora do descanso.
O arador é bruto, não tem essa 
singeleza que aparece nas faces,
Está queimado de manchas,
Roupa rota, olhar cansado...
Não a vermelhidão sensual
Do quadro.

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