quarta-feira, 23 de setembro de 2015



Venho emprestar-lhe ouvido 

Venho emprestar-lhe ouvido,
Treinado ouvir passarinhos
E não fuxicos levianos...
Quero pedir-lhe que, ao ler,
Ouça sua voz de dentro recitando
As palavras contidas na mastigação...
Quero desenhar com letras góticas
A minha premente indignação
Frente ao desvio das conversas
Não ouvidas como foram ditas,
Apenas ressentida estar muda
Frente à acareação dos males...
Que partida é essa que me parte?
Que forqueadura em nosso nome
Se reparte em intenções baratas?
Entre as bolhas desse sabão
Inverto as ordens da ordenação
E fixo o olhar no seu olhar:
Que expressão é esta,
Que não temos mais?

Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Saraiva, Perse,Clube de Autores, Amazon

No imperceptível som da alegria

Voa entre galhos folheados,
Leva o som dos ramos ao real
Para a filigrana do etéreo
Sentir-se no invisível mitral...

Sabe que seu som, inda fraco,
Pode ser murmúrio e fadar-se
Entre muros e galhos e florada
Enfim visitada pelas máscaras

Que se fazem boas conservar.
Seu sussurro sobe as pedras
Confunde a água escorrida.

O silêncio é o limiar do dia
Funde-se ao som da manhã
Fria ostentando a brisa...




O silêncio 


É o limiar de um galho
Quebrando em sua mão 
Quando você tenta riscar 
Um nome sobre a pedra,

Assim os nomes ausentes 
desemaranham alarmes, 
E para você se afastar,
Pensativo, tornar de lá

Sem deixar de ser motivo...
Apenas a palavra meada,
Que deixou de escrever,

Volta-se agora contra si,
Estranhamente repulsa
De já não ser.






Racionada


O custo da memória
Divide-se entre
Saudade e remorso...
Repartida apenas
Pela consciência
De vencer a derrota.
O custo da memória
Sua as dores da alma,
Deixada em desacordo
Com a real saída
O custo da memória
Extrai vidas...






Fatiota


Cresço
Quando me encontro
Igual ao que fui ontem...
Desperto desse sonho
Procuro-me nesse ato
Descompromissado
De viver-me pleno...
Cresço quando
Me desencontro
Do que deixei
 De ser ontem.
Assim posso ser-me,
Confortável em mim,
Ligeiramente folgado
Nesse corpo ancho
Onde me espaço
Ser.

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