domingo, 4 de outubro de 2015



O preço da liberdade


Não pagar, nem posso,
O preço de libertar-me
Das fusões passadas.
Não penso gratuidade...
Mas o preço desfaz-se
Em enlevados sonhos...

Liberdade livre no pensar,
Mais que possas imaginar...
Sublime, casta, benévola,
A liberdade como palavra
Tem-se a compromissar
Status, vírus, maquinações...

Uns se libertam quando
Não sentem dor, saudade,
Fusões passadas a limpo,
Falta de outros convençais...
Mas aí, o liberto está morto,
Alguém que ficou pra trás.

A válida liberdade é gratuita!
A tudo que o sonhar evita
Além desses muros retráteis
Espelho envilece convívios,
Entre o hoje e o que passou
O sino da liberdade soou.



Esperançados


Estou...
Estamos todos,
Atordoados de viver
Equilibrados na altura
Desse penhasco,
Olho para baixo,
Vejo-me no fundo
Do espelho d’água
Respirando medos...

Estou?
Estamos todos aqui,
Olhando para baixo,
Este espelho d’água
Mergulha entre pedras
E desfaz-se espuma...
Mas continua, calmo,
Sua direção ao incerto
Mar.





O caos


A chuva de granizo passou,
Cortou brotos da amendoeira,
Furou telhados e vidros,
Fez um estrago encardido
Nas mãos lavradas de hoje...
O caos impôs-se ao olhar
Desolado do morador,
A pilha de lenha encharcou,
O cão, amarrado, quedou-se.
A chuva do caos já se foi,
Deixando um rastro de medo
Entre cães e homens meninos
E uma infinidade de seixos...
O caos apenas medrou-se
À força do velho avô tinhoso,
Que de pá e rastelo pôs-se
A limpar as folhas caídas
E as lágrimas pela vida.









Ilhados

As ilhas humanas perdoam
Os navegantes que passam
Remando para longe da costa...
As ilhas humanas se sentem
Abandonadas pelos barcos
Que passam ao longe...
Ao longe se despedaçam.
As ilhas humanas sentem-se
Cercadas por amarguras
Por todos os lados...
Mares bravios,
Pedras pontiagudas,
E uma memória dos fatos
Passados a sua volta...
As ilhas humanas se fecham
Em suas pedidas e valem
O ouro de suas petitas...
Por humanas não esquecem
Os perturbadores da paz
E vivem a murmurar queixas
De seus abrolhos... Filhos,
Netos, esposos falhos...
As ilhas humanas, falhas
Tectônicas em bases frágeis,
E se comprazem.
Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Saraiva,Perse,
Clube de Autores, Amazon.

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