sábado, 16 de janeiro de 2016



Intermitências


Estranhamente o silêncio
Devota à chuva reverência...
Mesmo grilos aquietaram,
Zunidos se acomodam
Aos pingos chorados
No vidro dessa janela...
Os pés não são de barro,
Mas se embarrearam...
A mesma chuva os lava
De favor à escada molhada.
Estranhamente a noite
Não se mistura à névoa,
Compartilham lugares
Entre flores escondidas
E janelas embevecidas
Pelo escorrer de lágrimas
Vindas de um céu nublado,
Talvez deixadas rolar
Na feliz madrugada.




A vida que deveria ter sido


A vida que deveria ter sido
Vai se transformando em ossos.
Ao toque a carne treme,
Os olhos lesionam,
A mente desenfada.
O espasmo desfaz-se em quietude,
Transeuntes rodeiam calcetando,
Esperança que feneça
E deixe por herança
Asas inconstruidas, promessas,
Sonhos de desistências,
Tijolos esparramam pela rua nua
Alguma areia perdurando o tempo
Entre pedras apagadas, resto
Do que deveria ter sido
Esfacela-se em tecido
De pouca vontade
A irrealizar-se.





Aparência de fomes


As aparências são de fomes,
Bem alimentadas, elas mudam,
Acertam o passo, apertam os olhos
E passam, com em desfile,
Olham de soslaio na prevenção ao ato.
Pensam-se maiores do que são,
Portam-se piores do que são,
São assim, superficiais...
Seu olhar e suas mãos uniram-se
Ao bolso.
Que não se feche,
Não reclame.
Olho as ofertas, sigo adiante,
As aparências são de raiva agora,
Vendo que vamos embora...
Sigo em frente minha hora.







Sacada


Quando
A turba se enerva,
Parte pra cima,
Açoita
A própria farda.
O chefete
Põe-se à frente
Dessa batalha...
Mói as derrotas de antes
Sobre cabeças incautas,
Desce a mão armada
Bate,
 Apanha,
Extravasa.
Vendo correr sangue
Sob a coberta
De salvador
A turba se afasta,
O idealizador
Põe-se a salvo
Na sacada.

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