quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016


Cenário sete
Volto aos meus medos:
Na rua onde morávamos
A rua cheirou a pixe do asfalto
Se fazendo, o cheiro duro 
Entrando pelos cabelos,
O progresso passava
Pela rua onde morava
Da rua onde morava...
Onde morava tanta gente
Que apedrejava o que eu queria
Fosse verdade...
Eu quereria mesmo era não morar
Nessa rua cheirando pixe,
De onde moía café, buscava leite
Em balde, roubava mamão maduro
E nadava... Na água suja do tanque,
Jogar bola no campinho da paineira
Levava tiros de sal nos costados...
Ir à escola cortar as unhas
É o que me lembra
Das aulas...
Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Saraiva,Perse, Incógnita Portugal
Clube de Autores, Amazon Kindle.
Cenário oito
Na rua onde eu morava
Moravam também tininho,
Caziano, caçula e o cão duque...
Tanto cachorro morando,
Poeira, barro, carroças,
Deztões para a matinê,
Do cofrinho das economias,
Economia sincera, desacreditada,
Aniversário com sarampo
Eu quieto no quarto
Ouvindo outros cantarem
A briga de travesseiros,
Cobertores para o durango kid,
Graxa pros rolimãs
Para a corrida no asfalto novo,
Antes da inauguração
Fizemos o primeiro trajeto 
Sem cheiro de pixe ardido
Nas narinas e na língua
Da gente da rua onde
Morava...
Cenário nove
Na rua onde eu morava
Morava gente miúda...
Crianças para mais não querer,
De noite contar estrelas,
Desenhar nas nuvens 
Cavalos voadores, elefantes 
Se desfazendo ao vento,
Catar pedras de gelo
Na chuva desastrosa...
De medo se foram todos,
Crescidos e maltratados,
Casados ou descasados,
Lembrar o sete de setembro,
Direita batendo, direita batendo, 
direita batendo, sempre a direita
Batendo mais forte, os pés ardendo,
A testa ardendo ao sol de setembro,
Ao sol da independência,
Fanfarra e muita farra, 
Acerta o passo!
Por medo assim acertando...
Uniformizado
No azul e branco.

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