segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016



Cenário três
A voz do piá relembra
Tempos de chibarrada...
Pobre velho, amarelo de vontade,
Dão-lhe arroz em sopinha,
Quase nada...
Tiram sangue para exame,
Pensam estar hepático...
Pobre velho, louco pra comer...
Uma menina, uma quarentona,
A velha paquerando no tricô...
Mas ao medo das pedradas
Esconde suas vontades,
Sente-se miúdo, diminuído
Pela fala alta do rapazola
Que o pensa surdo de vez,
E da menina que cruza as pernas
Na sua frente, sem perceber
Na ânsia que isto lhe dá...
Pobre velho... Deixado ficar
Entre a morte e o abandono
Neste lugar.

Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Saraiva,Perse, Incógnita Portugal
Clube de Autores, Amazon Kindle.

Cenário quatro


Pobre menina olhando
Os cachorros na calçada da ruela,
Com medo de levar pedrada.
Eu quero, quero que a bala passe,
Fure a parede e me dê uma fresta
Pra respirar esse ar de festa,
Sem fungo ou mofo,
Ou tosse ou pigarro solto...
Eu quero... Quero ser menino de novo,
E ficar vagando os namoros
As pernas de fulaninha,
Moleca de meus afagos,
Ossuda a mais ser
Nossa moleca de afagar...
Quero voltar ao tempo sem pedrada,
Que as pedras do tempo me doem
Nas pernas, nas mãos, na boca,
Até nos ouvidos zunindo, me doem...
As pedradas que levei
Por afagar fulaninha.

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