Pés na lama

Eu nasci por aqui... 
Andando com os pés descalços 
através da lama. 
Nascido moleque pras coisas de viver, 
Andando com os pés descalços 
Pela lama. 
Mas, quando cheguei 
À idade dos anos 
deixei esse lugar na boa. 
O meu pai abriu as picadas 
Num mato bravio...
Colheu seu plantado
E bebeu seu vinho. 
Disse meu pai que a picada
Tinha os cheiros da mata, 
da chuva, da resina cortada...
Quando saí naquela manhã
Conheci os cheiros que ele dizia,
Das coisas da mata
Com quem conversava...
Com tocos, braseiros, queimadas...
Dizia meu pai as coisas das coisas
Que vivi... Aqui, entre toras e cafezais
E uma intensa vida vivida...

Domingo ele estava encostado 
No portão, olhando o seu moleque
De pés descalços na lama, 
Minha mãe em pé ao seu lado...
-Só que não estão mais aqui
E não sou mais moleque... Cresci?
Talvez um naco que tenha guardado...
Para mostrar ao pai o outro lado
com o sol brilhando em meus olhos. 
de pé no portão 
Com o sol brilhando em seus olhos...
sinto que aqui estão. 
eu fui-me de mim, rumo meu norte,
Estive em lugares distantes, disformes,
E volto à raiz, donde parti 
O coração deles uma vez,
Para pedir seu perdão,
Sem saber merecer.

Sergiodonadio.blogspot.com
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