segunda-feira, 16 de maio de 2016

Tem horas


Tem uma hora
Em que te dão à vida,
Tem outra hora
Em que te tiram a vida.
Separe bem acontecidos
Pra menos sofrer
Quando esquecido
Entre as velhas
Coisas de seu vivido
Entre os lixos
Podres do varrido.
Que, nesta hora,
Se te vale a pena,
Somam-se àquelas
 Que jogas fora
Entre os lixos
Que tivestes em tempos
E a desmemoria
Desses relentos...








Descoberta


Descobri que
A casa paterna não é lugar,
Um endereço,
Mas uma resposta ao fim
Voltando ao começo...
Aprendi que
A voz dos pais ressoa
Por onde quer que esteja,
Em sendo outra pessoa...
Decidi que
Vou aos quatro cantos
E talvez por encanto
Volte à casa de meus pais,
À sombra de sua força
À que não tenho mais.












Seguindo em frente


Seguindo
Sem saber pra onde...
A onda assim vai levando
A opinião dividida
Entre o real da partida
E a partida do real...
Assim vivida ou sonhada,
Sem caminho, sem parada,
Entre feras e coisa e tal...
Seguindo
Essa fumaça intervinda
Das paróquias desnutridas,
Querendo ser mais normal,
Caminhos desencontrados
Entre futuro e passados
Deixando ver cicatrizes
Que sangram ainda o final.
Seguindo
Só para ir seguindo
O que foi definitivo:
Voltar a ser anormal
Entre o sonho e o real,
Desvivido.




Das minhas almas


Uma das minhas almas
Espanta-se com o acúmulo
Do prometido às outras...
Da eternidade abanam lenços
Para quem ficou por último.
Estranho que se cumprimentem,
De há pouco divergiam
Dos caminhos a seguir.

Uma de minhas almas levanta-se
Enquanto as outras cedem,
Desfalecem ante dificuldades
E preme à espera pelos passos
Lentos com que procuro chegar.
Uma de minhas almas sabe
O que as outras têm de pagar...
Antes de acomodar-se.










Temperanças


O que o tempo nos traz
Não se comparte...
Apenas se vive
Parte a parte.
O que o tempo nos leva
Não se comparte...
Apenas se guarda
Na saudade.
Que o tempo é parceiro,
Não antagônico,
Se a guerra é a paz
Que o tempo nos traz.















Quando os tempos tiverem ido

Quando todas as noites
Tiverem ido...
As luas cheias desistido,
Os pardais calarem sua pressa
E a pressa perder o sentido
As eras voltarão...
Seremos mais velhos que os pardais
E as luas, e as paixões...
Seremos a volta ao fim do princípio,
A mão de adeus sem lencinhos,
Barcos partindo em chegadas,
Avoadas de folhas outonais
Pelos campos forrados de frutos
Deixados de ser colhidos...
Quando as noites
Não voltarem mais
O vento dobrar eucaliptos,
A grama dançar reverenciadas,
Então, sim, seremos imortais.
Que o tempo ido não valerá mais
Que a passarada cuidando ninhos
E o corte dos troncos vencidos...
Quando as noites voltarem atrás
E os tempos tiverem ido...
sergiodonadio.blogspot.com
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 Perse e Clube de Autores




































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