segunda-feira, 27 de junho de 2016


Se eu faltar a mim,
Não posso pedir que
Não me faltem os outros...









A vez primeira
Em que me soube solto
Tropecei nas ideias mornas
De correr um mundo
Que não me dava cordas











Remissão


Remi todos fatos mornos,
As idas e voltas ao fracasso
Nesse brinquedo sem rola
De não chegar em bagaço...

Cumpri todas as promessas,
As de ontem, agora ofertas,
A salivar as dadas vontades
À gula para com as vaidades...

Pensei-me ator de um palco
Onde comprei as verdades
Entre mirras e cadafalsos

Dos tempos em que perdi
A procurar suster-me forte
Por essas desrazões daqui.








Solário


Qual a palavra certa
Para o amigo incerto?
Vindo de longa agonia
De feras devorando crias...
De mãos que não abanam
Saudades das outras mãos,
De pés longínquos
Num passado caminhado
Com tanta dor?
Que palavra ameniza
O martírio de não saber
O princípio do querer-se
Ante o querer outros?
Qual a palavra seria brisa
Nesse escaldante solário
De fúrias e campanários?









Debaixo da neve


Debaixo de suas raízes
O campo embranquece
À espera das folhas verdes
Voltarem da invernada...
A grama empalidecida
Afasta desse crestado,
Grandes cabeças
Adormecem cada roçado...
Profundas raízes voltam
Refletidas na aragem
Do tempo bom ido embora...
O que o inseto reclama?
O verde fugido daqui
Para além do prevenido
Suster-se em nova grama








Luzidios


No branco luzidio da tarde
A recomprar meu sossego
Sob esse sol vermelhado,
Prometido, que não veio...

A nuvem densa era branca,
Antes da fumaça espessa,
A vida em sendo mais fácil,
Antes que se desaconteça

Na madrugada profunda
Com esses rostos pálidos
Vingando o quebra cabeça...

A vida assim com que arde
Saber-se definhada linha
Entre o antes e o tarde.

sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
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Perse e Clube de Autores





As pequenas coisas


A forma de dizer,
Das pequenas coisas,
Em versos brancos,
Evidenciando as escurezas
Escondidas, me apraz:
Do sentido ao sentimento,
Das flores murchas
Das ideias matadas,
Num ninho
Que se havia promissor,
E nada... Nada a acontecer
Nessa semeação macabra
De ordens e contraordens
Desenfreadas.









Manhã de frio


A madrugada entrega,
Profundamente lesa,
O sol raquítico às nuvens tensas...
Agora os rostos estão cobertos,
As faces avermelhadas acusam
O temor ao frio cortante vento
Do inverno chegando lento
Entre as planuras do alto,
E nesse relento de nadas...
Os anos pesam à consciência
Do sofrimento fabricado
Pela incompetência:
Um cabresto para dormir
Ante as portas fechadas.









Ao vagar...


Ao vagar pelos caminhos
O andarilho põe-se rei
Entre os escravos da razão
De ter, mais que ser.
Ao vagar pelas câmaras
O mandatário ilude-se
Sobre a supremacia do cargo,
Alçado ao desilude.
Ao vagar pelos dias
O promissor das alegrias
Põe-se leso à tristeza
Do faminto, solto nas ruelas,
Cantos escuros do templo
Onde rezam contendores
Das fartas promessas...
Ao vagar vergamos
À prece pelo insano
Turbado ser humano.








O improviso
É a alma do insucesso.
Diz-me um sábio
Em recesso.







O fim é sempre o começo.
Daqui parto para o amanhã
Sem preço, mas com apreço
Às coisas de ademã...



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