terça-feira, 19 de julho de 2016



À casa que me visita


A casa que me visita
Não tem muros,
Cerca-me de flores e carinhos,
E eu a esmurro!
Quanto faz que não nos vemos?
Desde quando nos derrubamos,
Pedra a pedra, sentimento à ânimo...
Somos sim, amigos desde esse tempo,
Mas nos destemperamos
Com o tempo vivido acolhendo vias,
Eu as despedindo.
A casa que me visita
Não é a mesma,
O tempo fez-nos diferentes
Nesse siso extremo.





Tempo de olhar estrelas

Do tempo em que me via criador
Ainda trago essa tenra ternura
De saber que o riso põe a dor
Ao termo do agora criatura.

Ao tempo em que vigia era amor,
O mesmo, sem essa licenciatura,
Pensando inda ser um professor
Aluno dessa vã nomenclatura.

O mar profundo espelha estrelas...
Podes crer, há um grande mundo
Abaixo desse nosso mundo

E um outro grande mundo
Acima do que vivemos mundo,
Assim é que se assemelha









Me compram à vista,
Preciso desse prazo
Definido em lista...






A palavra pode ser afago
E pode ser adaga...





 Conclusões da escureza


Todos cantos da casa são escuros.
Todos cantos da criança são rosa...
Por onde anda essa fase inculta,
Que ouve o canto e se conforma?

Eu tinha uns olhos esperançosos
E a vida trouxe-me a questão vital
De como semear pretensas rosas
Entre as pedras soltas do quintal...

Se o canto insiste em cada escuro
Em que o canto não se refaz capaz
De reerguer-se nessa fase inglória?

É que o canto, em canto implora
O som mavioso atravessado muro,
Tornando escuro o tempo rosa.




Destempero

Esse não é bem o lugar
Que escolheria para dar
Ciência de meu desapego
Ao dinheiro... Mas, sigo,

A cena acontece agora,
Nesse teatro ilusionista.
Então, aqui me entrego.
Ao erro em sendo cego?

À paixão de não valorizar
Dinheiros, mas as rações
A suprir minhas fomes,

Outras nos destemperos.
Esse não seria bem lugar
De meu finado desterro.    





A degola


Quando minha mãe
Degolava uma galinha
No quintal, para almoço,
Ela corria uns passos,
Desesperada, até se dar
Conta de perdido a cabeça...
Lendo Maiakovski comparo
As galinhas aos guerreiros,
Degolados nas batalhas,
Correndo ainda até
Se darem conta
De perdido suas cabeças...
Como somos predadores,
Se não de galinhas,
De nós mesmos!







A paz contempla
A inconsciência...



Os queridos que se afastam,
Não se vão...
Apenas sustam suas presenças,
Em vão.





Valores imateriais


Os escritos estão paginados,
Desde sempre,
Nas lápides dos poetas...
Dos sonhadores do mundo...
Dos estetas desorientados
Pela lei dos latifúndios...
Estão na vitória e na derrota,
Da palavra sobre a adaga,
Verve sólida empenhada
Em ser cultura... Em tendo nada!
Que o tempo passou para todos,
Apenas imortalizando a palavra,
Deixando mofar nos túmulos
Os vencedores e os vencidos
Das batalhas sem juízo
Dos canalhas.


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