sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Armários rotos


São tantas memórias
Que guardo...
Seletivamente.
São passagens, desassossegos,
São nomes enumerados,
São farsas de algumas tardes...
São viagens... São viagens...
Algumas apenas memorizadas
Sem terem sido viajadas...
São gralhas afiando garras,
São empilhadores de lenhares,
Moscas em minha vidraça,
Formigas no meu açúcar...
São memórias memoráveis,
Ou não, apenas armários rotos
De desacontecidos tortos...







Envolvências


As pessoas passam
Inadvertidamente distraídas,
Revolvendo suas vidas,
Desfazendo esperas
Vencidas...
Aqui e ali alguém
Tem um sonho novo
Mas parece desistir dele
Vendo a pobreza em volta...
A mesquinhez das posses...
A leveza das resoluções erradas...
- O mundo não é feito
De decências, as opiniões
São de manadas.











Passeadores


Conversam na calçada,
Convergem das calçadas...
Passarela de meninos
Com seus skates
E meninas com suas poses
Na algazarra de falas chulas,
Gestos... Entreveros...
SILÊNCIO!
Alguém poderia contê-los
Nessa orgia de virem
Algazarreando pela calçada?
O silêncio seria a forma ideal
Para nós outros...
Para os que pensam
O que falam baixo
E calam seus pensares
Vagos...





O chão do lugar nascido


O chão do lugar nascido
Se movimenta
Entre projetos e recordos...
Da primeira rua
À distância infinda,
De viagens idas...
Se põe à frente
De passos indecisos,
E,
Definitivamente
Se estende onde o olhar
Se fixa.











Inópias


Corremos
Todas as corridas,
Comemos
Todos os manjares,
Curamos
Todas as feridas
Desse corpo
De inópias
E paladares...
Até que o corpo
Torne-se inútil
Ante as vontades
Da alma.










Andamentos
Do livro Primários

Quando as vinhas
Esperam serem vinhos,
Da uva doce
O forte complemento,
Assim como as fontes
Se tornam rios,
E plumados
Ficam os pintainhos,
Os nascituros aprendem
A ser gente
Limadas suas cascas,
Soltas suas asas
Rumo a esse poente
Quando doces vinhas
Se tornam vinhos
Quentes.

sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores






Empirismo


A poesia caminha
Rente ao chão
De granitos...
Areia e cimento
Das construções
Empíricas...
A poesia se faz parceira
Imaterial nessa luta
De construir-se
Casa e forro,
Mente e esforço,
Grito e silêncio...
A poesia acompanha
Cada gesto, cada sonho
De empreendimento,
Parceira desse assédio
De paredes, sonhos
E intento.


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