terça-feira, 23 de agosto de 2016

Metforminas


Quem sabe o tempo
Seja o linimento...
Metforminas e aspirinas
Não dão valia ao sofrimento
Que o tempo cura...
Que o tempo assopra
E cicatriza.
Quem sabe seja esse tempo
A cura da maior ferida,
Aquela advinda
Dos maus momentos...
Quem sabe seja disso,
Do sempre preciso
Discernimento.









Minha próxima lágrima


Minha próxima lágrima
Que seja por uma vida
Que chega...
Minha próxima lágrima
Que seja por uma vida
Que parte...
Que a alegria a traga
Entre sorrisos largos...
Ou a tristeza marcada
Pelo senso do nada...
Minha próxima lágrima
Contida por um tempo
Seja enfim deflagrada
Por alguém precioso
Entre os que passaram
E o que se passa...

sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores






O tono complexo


O tono desse tempo
Se completa quando o azul
De céu verdadeiro
Se faz vermelho na pintura,
Como o pincelaste...
Assim na letra da poesia,
Roxo, verde, branco acre...
O azul que seria o céu
Que o poeta viu verdadeiro
Não distingue suas cores,
Apenas o reflexo
Desse amor em corte celeste
E suas sombras
No dia feito choro
Ou no outro dia feito alegria...
O dia a dia sempre o mesmo
Entre a beleza da tristeza
E o contraste com a alegria
Efêmera a cada mesa.




Vento sul


O vento não pende
Todos os pinheiros
De uma só ventada...
Quanta força tem esse sopro
Que me acossa e impõe
Que me resguarde
Sem poder combate-lo,
Vergando pelo pinheiral
E como esses, resistindo
Outra vez agarrado à raiz
De meu solo insídio...












Brenhas


Fechar os olhos
Instintivamente
Pra não ver o pássaro
Ser abatido,
Calar aboca,
Fechar o bico,
Silenciar o grito ante
O absurdo desmedido
Do resto da verdade
Que não foi dito.













É lá que moro


É lá que moro,
Entre os ventos da Mantiqueira,
Acima da Serra do Cadeado
E do Ivaí...
Sobre a plataforma inteira
De canelas e cafezais...
Hoje o frio se espalha
Nos meus ossos,
Que estão mais frágeis,
Empalha os gestos lerdos
Frente aos ventos da Mantiqueira
E o fatigado do antigamente
Ágil batedor
De picadas...









Credos


Há os que creem na salvação,
Há os que creem no inferno,
Mas o inferno humano
É mesmo aqui,
Como creem os ateus,
No seu ateísmo religioso
Como salvação ao sarcasmo
Fanatizado frente ao inexorável
Preito de se ver salvo
Sem medição.
















O senhor atrás da cortina
Se distancia... São galhos caídos
São minhas vidas no vendaval
Deixando fluir haveres...







Como somos tão iguais
Em nossas desigualdades...
Vejo bem de perto isso
Nessa espera pela terapia.








Inexorabilidade


A casa,
Em que moramos por tempo,
Está enrugando...
As paredes nuas de pintura
Descascando...
As venezianas quebradas,
Partidas de envelhecimento...
Perdendo seu brilho de antes,
Deixando ver suas falhas,
Seus desalentos...
Como envelheceu
A casa em que moramos...
A casa em que moramos
É nosso espelho
Inexorável.









Término



Invejo as asas
Soltas das aves...
Imagino que elas
Invejem minhas
Pernas firmes

Nessa laje...

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