domingo, 7 de agosto de 2016

Transeuntes


Ela passa todos os dias
Com suas sacolas de compra,
Isso tornou-se um ritual,
Faz anos que é a mesma coisa...
Agora ela está grisalhando
E não para de passar
Trazendo comida para
Sobrinhos, irmãos,
Que bebem e brigam
E comem suas compras
Achando tudo normal.












Na jaula do tigre


Tudo está pronto para a caça,
Somos caçadores milenários,
A corrida do tigre atrás da corça
Assusta o homem, caçador,
Que espera o desfecho disso,
As raças se contradizem,
Somos carnívoros contra herbívoros
Desarmados dessa ferocidade...
Temos caninos como os tigres,
Predamos a mesma caça,
Concorrentes nessa corrida
Veremos quem irá adiante...
Mas temos medo, um medo
Que o tigre desconhece, e avança
Sobre gazelas ou jacarés
Com a mesma destemidez,
Que nós, humanos, perdemos
Com o tempo e a criação
Das armas e apetrechos
Protetores dessa raça
De armadores...


Das desalegrias


As pessoas
Vão e veem...
Não falo de passeios,
Viagens...
Falo em viver
E morrer.
Fazemos amizades
Com pessoas instáveis,
Elas aparecem do nada
Para conversas, afagos,
Choros, risos,
Ou ficam caladas
Ao nosso lado...
Quando menos se espera
Elas se vão...
Desalegradas.







Ordenados


São as pessoas... São as pessoas
Que me fazem caminhar.
Quereria estar só, mas,
Dentro da lógica familiar, não posso.
São as pessoas que ajudam respirar,
São as pessoas que me empurram
Para o lugar à frente, ou a trás...
Não sei aonde estamos indo todos...
São as pessoas que acompanham
Meus passos, nosso desespero,
No dia a dia... Que nos fazem acordar
Com seus compromissos a sanar,
Com seus roncos, com seus alarmes
Que só deveriam tocar quando
Ameaçados, mas tocam sempre,
Para os cães e os gatos da noite...
São as pessoas que se alarmam
De dormir e despertar no susto,
Segundo outros mandem
Que se o faça.






Quem lê um poema,
Assimila, o completa...
A visão de cada ledor
À visão de cada poeta.









A vida é partida pedaços
Como o boi no açougue
Coração, fígado, baço,
Intermediados ao laço.






 Olimpíadas


Estamos olhando
O limiar de um tempo...
Daqui vemos os fogos de artifício
E o espocar das champanhes,
Bem perto crianças brincando
Sua miséria
E seus pais sentados em caixas
Assistindo aos fogos...
Não há champanhe,
Uma garrafa de guaraná, já vazia,
A alegria esperando a felicidade?
Aquelas pessoas doem na alma...
A pessoa daquele pai,
Daquela mãe ao lado,
Das crianças escarradas em ranho...
A pessoa que se subtrai à luta
E cede aos braços cansados
E move-se de arrasto...
Aquela pessoa... Aquela pessoa...
Talvez doesse mais
Se fosse eu aquela pessoa
Desamparada...
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores





As guerras transformam
Pessoas em cadáveres
Apodrecendo vivos
Entre atirados e atiradores.
Entre famílias de mortos
Ficam insepultos os congêneres
Deixados viver o desespero
Da falta...
Transformando pessoas boas
Em pessoas más,
Digerindo tantas verdades
Impossuídas...
Dessas guerras em tempo

De paz.

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