domingo, 18 de setembro de 2016

 A conta que não fecha


            Mesmo em plena recessão e com rombo de R$ 170 bilhões anunciado, o governo decidiu abrir os cofres sob a alegação de que essas novas despesas bilionárias já estavam previstas. Me engana que eu gosto, ao mesmo tempo que o presidente interino obtém importante vitória na Câmara, aprovando, por maioria qualificada, um projeto de desvinculação de receitas que lhe dará mais fôlego para administrar o rombo, surgiu um mal estar pela contradição entre medidas aprovadas na mesma leva e promessas de austeridade. A aprovação ocorreu na mesma sessão que autorizou o reajuste salarial de servidores do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, uma medida que deve tirar 52 bilhões de reais do caixa do Governo até 2018, Na sequência, a Câmara aprovou a criação de 14 mil cargos públicos federais, três vezes mais do que ele prometeu cortar em cargos comissionados como indicativo da disposição da gestão de cortar na própria carne. A aprovação não passou no Senado. O líder do governo, Aloysio Nunes, manifestou sua insatisfação com a proposta e afirmou que não iria defender algo ao qual é contrário. Na sequência, foi o presidente do Senado, Renan Calheiros a externar contrariedade em relação aos projetos: “Votamos um déficit de R$170,5 bilhões e, na semana seguinte o governo aprova na Câmara um aumento aos servidores públicos? Das duas uma: ou não podemos dar aumento salarial, nem criar cargos, nem aumentar tetos, ou aprovamos um déficit que não existia. Essa irresponsabilidade fiscal, mais do que nunca, neste momento conturbado nacional, é preciso que se detenha”, defendeu, sepultando qualquer chance de votar a proposta na Casa, o líder do partido Eunicio Oliveira, afirmou não simpatizar com as propostas de reajuste. Diante do impasse, o governo deixou a votação em compasso de espera. Deu para entender? Fácil: suponha que esses números sejam o seu orçamento do lar: em 2015 as despesas com pessoal, previdência, educação e saúde mais os juros somaram 24% a mais do que a receita. Então, seu salário mingou uma semana antes de acabar o mês. O que você faria em sua casa? Pois é, eles não querem fazer, querem que o vizinho pague a conta, pode? O problema é que o presidente faz um belo discurso para a torcida, mas assina o contrário para a realidade, e o federalismo assinado em 1891 até hoje não levanta voo, deixando de lado os poderes estaduais e municipais, dando ao poder central a chave do cofre, para os desmandos que continuamos a ver, inspirada na federação norte americana, de cem anos antes da nossa, que dá autonomia aos estados membros, aqui não funciona no mesmo ritmo. Salientando que todos os outros países que deram certo regem-se pelo parlamentarismo. Talvez fosse a solução, porque o presidencialismo nesses moldes, usurpado desse jeito, não funciona.

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