quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Defluidos


Não são as vontades
Que delimitam o tempo,
Mas as ações...
Um velho pode ter curtido
Muito sol e muito frio,
E assim ter envelhecido...
O peso no cangote
Nos põe velho sem o tempo,
Talvez com mesmas vontades
De quando jovem, sonhando
Mares e ares, defluidos
Na necessidade
De seguir adiante
Cada instante.












É triste quando
Alguém dá adeus
A si mesmo...
Um tanto
A vida se desfez,
Outro tanto
Desfez-se à vida
Nessa dorida
Caminhada
Rumo ao nada.
É triste...
Mas inda existe
Um fio de amor,
Ou ódio,
A fazer-se útil
A si mesmo
Entre lamentos
E somenos.







A luz
Que se pesca
No reflexo da água
É ilusória.
Tanto quanto
O que se acredita
Na palavra
Fora de hora.


















No dia hoje
O hoje do dia
É tão incerto
Quando foi
O ontem, ontem...
O amanhã
Não muda
Nessa sequência
De mudas...















Trem das horas


Todas as horas
Estão indo embora,
Cansadas de esperar o mesmo trem
Em sua última hora...
Senhoras em suas cadeiras de balanço
Continuam bordando franjas
Em toalhas novas
Como se fossem virgens
Como as virgens de ontem...
Os casamentos têm a hora cerimonial
E tornam-se a atração depois
Das missas das manhãs de sábados...
Todas as horas desistiram de esperar
As virgens vestindo branco,
Simbolizando a pureza...
Todas as horas cansaram-se
De esperar esse trem
Vindo de tão longe,
Que os mais velhos esperam
Inda agora...



Mesmo que eu minta


Eu ontem disse
Coisas amargas...
Eu ontem disse
Palavras vagas
Entre as ocupações
Das frases rasas
Que, em especial,
Me rubra a face.
Por vergonha
Olvido qual seria,
Entre as mentiras
Que eu me disse,
A verdade ao certo...
Foi por alegria?
Tudo terminará,
Em verdade,
Mesmo que eu minta
A minha idade...
No labirinto crasso

Dessa maldade.

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