segunda-feira, 14 de novembro de 2016

                    Mensagem de natal


Somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.
Nós, seres humanos, cultuamos a desigualdade. Mesmo nas campanhas pela igualdade, o que aflora das intenções é a manipulação do necessitado. Desde os primórdios da organização das castas, impera o senhor sobre todos os outros, O mais forte, depois o mais ladino, depois o menos ético... Sempre a mesma ladainha, sempre a mesma disparidade. As sociedades antigas discriminavam abertamente, a sociedade atual camufla, mas discrimina. Há, até nos mais prosaicos ambientes, os lugares de cada um, determinados pela sua importância enquanto autoridade, enquanto doutor, enquanto serviçal. Vem dos tempos em que se dividia em nobreza, clero e terceiro estado. Agora se divide em importância de cargo, como sempre, com novas denominações, Quem pode sentar onde? Quem pode sentar ao lado do presidente? Do rei? Suas majestades impõem o assento de cada um, na hierarquia, termo tenebroso que traz o:"Você sabe com quem está falando?" embutido no pomposo elemento hierárquico. Dos tempos de nobres e escravos, herdamos o esnobismo, hoje acadêmico. E não precisa ser doutor em nada para ser doutor em tudo. Basta ter assento ao lado. Basta subir um degrau para se tornar desigual ao seu igual. O amigo de cerca ou bar, elege-se vereador, a partir daí não é mais o mesmo, de seu gabinete comanda a vida. Se é prefeito, então, já se distancia um pouco mais, deputado já está noutro degrau. Governador! Quem pode se aproximar dele? Se for para a esfera federal, some de vista, até chegar ao presidente. O sociólogo, por sinal, ficou bem acima de seus colegas, professores universitários! O seguinte está a léguas de seus colegas operários...e, quando descem do palco, não mais voltam ao seu status natural, serão sempre ex-autoridades.
                O que faz voltar ao assunto é a morte de Claude Lévi-Strauss, este mês. O grande antropólogo e etnólogo sempre bateu na mesma tecla, de que não há diferença entre um indígena e um cidadão do primeiro mundo. Ele pregava a coincidência entre o pensamento dos selvagens e dos civilizados, dos primitivos e dos atuais seres humanos, dizendo que não há um pensamento de selvagem mas um pensamento selvagem em qualquer nível de sociedade. Com essa tirada fenomenal derruba o nariz erguido de qualquer vaidade acadêmica. Este grande "professor" lecionou na Universidade de São Paulo a partir de 1934, onde permaneceu por três anos, e criou o estruturalismo, sistema de solidariedade para formar estrutura, que difundiu pelo mundo todo, só assimilado por aqui na década de 50.
                Então, por que continuamos cultuando a desigualdade às vésperas de mais um aniversário de Jesus? Porque continua sendo o cristo de todos nós.

                                                                            sergiodonadio.blogspot.com

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