segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Na madruga


Vem-me a palavra
A exprimir sentimentos...
A dizer-me o que mereça
Ter-me sido dito...
A pensar-me,
O que faria de mim
Esse palavrista...
Interpretando os sonhos
Que me vêm na madruga
Silenciada.













Nos descaminhos da lida


Nos descaminhos da lida
Perdi-me em coisas
E valores,
Vergonhas e cotovelos...
Até reencontrar-me
Nas distâncias dos novos,
E
Perfazer-me ao contrário
Do vento...
Os descaminhos da lida
Trouxeram-me até aqui,
D’onde posso ver-me
Seguindo em diante,
Esbaforido, suado, vencido,
Mas perseverante...








As árvores vestidas


As árvores estão vestidas
Para o dia de domingo,
Em festa desde suas floradas
Ao canto dos bem-te-vis...
Apenas o urubu está em silêncio,
Não canta, plaina seu balé
Perfeito sobre nossos passos,
Esperando que algum tombe
No cansaço
Até a tarde desse domingo...
Aí descerá para a festa acabada
De nós outros.














O vagabundo pede um troco.
Alguém o condena a camoeca,
Outro o espanta pra bem longe
Acoimado ao lenho que deixou.

Um terceiro virá repreende-lo
Entre bandidos de vil madeiro.
Quem no tempo o fez tão leso?
Diz o de longe ao ver sangrado

Por este lenho de não cortado,
Por este inverno que é imposto
Sabem tantos seu pior agosto?

Estranhando o forasteiro ouve:
-Haverá alguém a dizer: -Talvez,
Por não saber que a vida lhe fez?






Fora do tempo


Sou de uma geração que,
Em criança mandavam velhos.
Hoje velho, mandam as crianças.
Mas não perco a esperança.

Uma geração a dessangrar-se
Nas sarjetas dessa guerra
Que, não tendo inimigo,
Não tem parceiramento amigo

A viuvez desses novatos
Desata um laço comprometido
Com o fracasso

Antes de mais nada
A vida amarga
Quem não adoço os idos






Frincha


Não se chega à certa idade
Sem alguns arrependimentos...
A areia dos tempos idos
Mereja os olhos cansados
De olhar falcatruas e revezes.
Na maioria das situações
As pessoas não estão interessadas
Pela verdade doída...
Pensar se faria de novo as mesmas coisas... 
Responderia de pronto:
- Se.
Se as situações fossem as mesmas.
Se as consequências amenizadas
A posterior... Se mais previsíveis...
Se menos truculentas como fora
Ao tempo, passado a limpo.
Os tempos mudam rápido,
As pessoas nem tanto...
Somos inofensivos agora,
Mas eles não sabem disso   rsrs
Já estamos sendo nossos pais
Nesse interstício.

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