sexta-feira, 16 de dezembro de 2016







Cheganças



Chegamos tranquilos
Até aqui…
Setenta anos
Levados a sério
E mais de quarenta
Cumprindo, além do altar,
O prometido aos filhos
Vindos dessa união,
Beneplácito de quem
Se dispôs a criar raízes,
Sem estagnação.












Ao tardar desse sorriso


Onde estaremos a salvo
Se escarniço por toda
Manhã pensando nisso
De sorver as dores e os risos
E de tudo criar felicidade?
Ouço o canto dos pássaros,
Que pode ser alegre ou triste,
Mas talvez seja bem isso
Que falta ao humano,
Humanizar-se no canto
De chorar do que não se disse.
Depois, no tardar desse sorriso
Saber que o sol ao pôr-se
Não entristece, mas faz-se
Escura toda beleza
Que permanece.






Às coisas e às pessoas


Às coisas e às pessoas
Dedico meu tempo elusivo
Promovendo as alegrias
Para as suas caras tristes
De suas vivências como
A xícara da louça desencabada,
E da pessoa que treme as mãos
Empunhando a xícara,
Ambos de tanto uso…
Somos todos a sobra por princípio,
Das louças e dos ofícios…
A ambos dedico tempo e dinheiro,
Nem sempre nessa ordem,
Para vê-los sorrir suas banguelas
E bordas descoradas
De tanto uso… Tanto uso…
Por quase nadas.






Extenues


Este ser vivo extenua
Se olhar para o passado,
Entrega nos olhares fundos
Sua vontade de terminar.
Estão aqui, moribundos,
Parceiros de outra hora,
Mas não se sentem assim,
Talvez o clima explique
Tanto desânimo.
Talvez, apenas talvez,
Devamos visualizar o amanhã
Como próximo passo,
Já que não encontramos
No momento hoje
Resposta para esse ser vivo,
Extenuado…







Tálamo


Do vivido passa por mim
Uma estranha lembrança
De passos dados atoa…
Vez ou outra alguém,
Trazido à mão de outro
Faz-me lembrar coisas…
Fatos, boatos de outrem.
Do vivido a mim cabe
Ordenar essas mentiras
E poder transforma-las,
Sorrir ao mal entendido,
Zelar pelo não vivido,
Pegar na mão de vinda
E aceitar a ajuda oferta.
Do vivido em mim passo
A percorrer esses fatos
De uma vez tê-los feito
Abertos em meu leito.








As coisas mudam de lugar.
As situações, as alucinações…
Com diferença nas aparências.
De cabelos brancos
E olhos cansados, semicerrados,
Ouvindo o som novo,
Batuques sem retoques
Desse tempo de pressas
E lampejos…
Apenas pernas correndo
Sem sentido, mostrando-se
Até a divisa de coxas e virilhas…
As aparências medem as pessoas,
Os mais vividos não se importam,
Sentem não os ter vivido








Alguma coisa não está certa


Alguma coisa não está certa
Quando, carcomidos pelo tempo,
Nós, humanos, nos comparamos
À preguiça do gato, que sobrevive
A tudo melhor que nós
Desde sua primeira mamada
À última procura…
Alguma coisa não está certa
Quando, a certa altura,
Nos satisfazemos com dinheiros
Para amenizar as dores.
Alguma coisa não está certa
Quando nos colocamos
Nessas cadeiras de balanço
E nos entregamos ao ócio tardio
Desse corpo cansado de procurar
A preguiça do gato.
Alguma coisa não está certa
Quando sofremos pelos mortos
E não nos condoemos ver matança
Pelo mundo longe dos olhos…
E nos fazemos inocentes
sendo parte desse genocídio.

O homem na sua cela


Neste infindo poder
Da fala
O homem se prende
E se isola
Na condição ignara
De ser homem!

Sua cela não tem grades,
Tem silêncios,
Janelas fechadas
Ao entendimento.
Frestas inacessíveis,
Pois que não as alcança
Em suas formas
De esperança.
A cela que prende este homem
É sua ignorância.


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