segunda-feira, 19 de dezembro de 2016





Mesmo que eu não entenda


Meia noite
Do último dia do ano,
Segunda feira
De carnaval,
Outros menos cotados,
Não me dizem nada
Do que seria festejável…
Mesmo que eu não entenda,
Sobrevivo a eles
Porque os meios me massacram
Ofertas de ser feliz
Com alguma graça…
Esses dias feriados são monótonos,
Fins de estágios, vislumbres
De boas novas, quase sempre
Não confiáveis…
O fim de tudo é enfim
Um novo dia igual
Ao ontem festejado.




A compaixão


Não é um sentimento sadio.
Pode até produzir lágrimas,
Mas não consola o outro,
Nem o afeta…
A compaixão é um momento
Sem fúria
Entre tantos que a fúria
Tomou para si.















Benditos sejam os ignorantes


Conheci hoje,
Conheci não, vi na internet,
Umas pessoas muito racistas,
Quando felicitei um rapaz
Pelo seu novo emprego,
(Por acaso um afro descendente)
Parafraseando parte de sua verve,
À sua frase “Enquanto negro
Sofria por meu cabelo”,
Eu disse que “enquanto branco
Sofria por não ter cabelos” …
Acendi a segregação nelas,
Que disseram-me racista!
E que por não haver
Racismo reverso, e que mais…
Não entendendo a charada.
Eu, racista?! Brigo contra ismos!
Como não as conheço, e,
Obviamente, não me conhecem,
Tchau.



Resíduos
Aos pedaços e mim me dirijo:


- Aos pedaços de mim,
Que se foram residuando
A cada partida, a cada chegada,
Amontoando-se no lixo da memória,
Dos tempos de outra hora
Aos tempos de agora,
Que também estão se indo embora…
Nos incêndios dessa alma
Desalojada de outros corpos,
Nas dores de cada corpo
Em cada porto…
Aos pedaços tirados de mim
A cada empar esperado, demorado,
Ancorado ao instante que passa…
E que se torna passado.
Areia das ruas, pedreira das praças…
Esses pedaços deixados ao acaso
Das lágrimas passadas, deixo
Meu status de quase nada.



Aos sonhos que morrem


Aos sonhos que morrem
Por não florescer,
Expresso meu pesar.
O que passa diz o porquê passa,
É só assoar-se…
A vida é moldada um ninho,
É só observar-se…
Do rio indo-se ao mar,
Do pássaro alçando-se ao nada,
Da flor florindo-se nas lajes…
Contando suas verdades.
O que mais para navegar?
As janelas abertas mostram ruas
Que se cruzam e fazem esquinas.
Os homens que viajam
Copiam os rios
Os lenços abanam
Adeuses cansados,
Os sonhos que morrem
Sem florescer,
O meu pesar.


Por falta de melhor assunto


Vamos rever as pessoas
Caminhando nas calçadas
Em suas calças rotas
E ideias gastas…
Vamos caminhar com elas
Que já se emparelham nisso
De respirar cabisbaixos,
E mais nada a ter sentido…
A velha tia, o vizinho morto
Cortando a grama
E
Buscando a correspondência que
Há muito não lhe é correspondida.
Aquelas velhas taças desacompanhadas, que não
Se quebraram ao uso…
Aquelas velhas senhoras,
Desacompanhadas,
Que não se quebraram ao uso…
Tudo muito velho,
De muito uso.






Esperem por mim, coisas inúteis,
Que as preciso para ser útil…
Talvez inda não seja o tempo
De dizer o que está errado,
Tudo muito velho… Muito usado…
Os quadros nas paredes,
O rosário perdido entre tralhas,
As tralhas… Ah, as tralhas
Tão bem guardadas…
As galinhas poedeiras,
As cafeteiras com coadores de pano,
Todo passado sublinhando
O que de agora imprestável…
Não visto pelos novos moradores
Desses espaços urbanos,
Desurbanizados.
Tudo tão velho,
Tudo tão passado…
Que me morde a saudade
De ter notado.


Cartinhas nos correios


Perdi o jeito de sofrer
Por essas notícias sangradas…
Por estar sorrindo
À morte campeada…
Desses meninos.
Antes de mais nada quero
Ler a carta entregue aos correios
Para um Papai Noel
Que esteja desperto para isso,
De meninos sem sonhos…
Desses pedidos mofos
São tantas esmolas soltas
A vergar vergonhas
De ser parte.
Perdi a indignação
Diante da miséria desses entes
Que perambulam pelas vitrines
Pedindo balas aos prometedores
De dias melhores, de sempre…
Só não perdi minhas lágrimas
Porque elas, enfim, são
Meu horizonte.

pedaços de horas


Esses pedaços de horas,
Sobre os quais eu ainda
Não disse nada,
Tiram-me o sono na madrugada,
Não o da tarde,
No calor do cansaço da tarde
Nenhum problema atrapalha,
Mas na noite o sono requer
Silêncio e escuro.
Na sombra desse silêncio
O pensamento voa
E acorda a saudade das coisas boas,
A precisão do ter-se feito.
Nesses pedaços das horas
O tempo faz-se urgente,
Tudo parece atrasado no seu jeito,
Mesmo que amanhã
Ainda seja cedo.








“O suicídio não funciona
Quando se fica velho,
Há muito pouco a perder”
                 Bukowski








Quando alguém grita
Mas ninguém ouve

Estaria mesmo gritando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário