sábado, 7 de janeiro de 2017

A volta ao lar


De volta à casa
Nem sempre se volta
Ao lar…
As coisas mudam
De lugar.
Entre os copos sujos,
A toalha desalinhada,
Os pensares mudam…
Que lugar é este,
Irreconhecível ao olho,
Despedido ao tato?
Que lugar é este
Ao desacato?











Retornos


À distância esquece-se
Como são os cômodos
E as pessoas da casa,
Como era a convivência com elas,
Pessoas, portas e janelas…
Mesmo que tumultuosas
Deixaram saudade,
À distância.
Na chegada aos portos de lá
As casas lembram a deixada
Casa na colina… Mas as pessoas
E coisas dentro delas
Nada diz do que ficou a viajar…
Agora você não pode retornar
Ao mesmo lugar, feito outro
Na pintura das paredes,
Na colocação dos quadros,
Na visitação às pessoas,
Esquecidos de como eram
Antes desse lugar.






Todos já se foram,
O escuro, enfim,
É a companhia.
O céu está estrelado,
Mas do lado de fora…
Para este tempo de dor
Os sons se confundem
Entre ladainhas e choros
E bandas juvenis…
O que poderia ter sido
Ficou do lado de fora,
Com a alegria suspensa
Na demora.













Tudo que sabemos
Sobre nossos ódios
É que eles afloram
E não têm cabimento
Nos haveres e deveres,
Apenas remanescem
De outros sentimentos
Ocultados no silêncio
E acordam na falta
De paciência…













Olhares


Esse olhar cansado
Das vivências…
Esse olhar perdido…
Esse olhar indignado…
Quantas vezes o olhar fustiga
O novo em relação ao passado?
Esse olhar de cansaço
É verdadeiro
Entre os dedos na viola
E a mente na saudade…
Esses olhares…. Esses olhares…
Plenos de memória,
Soltos na paisagem…










Não é impossível


Talvez seja impossível
Sorver avisos diversos…
Fazer que o longe
Fique perto.
Talvez seja difícil
A assimilação dos fatos
Relatados nos jornais do dia,
No choro da alegria.
Mas é preciso sempre tentar!
O impossível à primeira vista
Pode ser difícil ao segundo olhar,
Mas factível ao perscrutador
Das horas mansas entre
O longe ficando perto
E o perto à mão, decerto.








GOSTO DA POESIA ABERTA


Reverencio o soneto,
Mas gosto da poesia aberta,
Esta
Em que o verso não se prende,
Te liberta.





Aos olhos de minhas mãos
O tocar é tão visível
Que a luz desnecessária
Se apaga…









À margem


Almas partidas,
Corações amargurados
À margem da lida,
Do senso de chegada
Ou de partida,
Perde-se a despedida.
Os passos passam
Mendigando espaços,
Olhar de remorso
Se reparte em formas
De dissabores idos…
Cães ladram estranhando
Esses pés amachucados
Na contagem regressiva…
Da última varrida.








Ao correr dos dedos


Corri os dedos
No alto de sua cabeça,
Já ao tinhas mais cabelos.
Olhei dentro de teus olhos,
Já não tinham brilho.
Toquei tuas mãos, geladas,
Sentindo que já não estavas…
Para aonde ires agora, fria?
Para ires embora, se não ias?
Corri os dedos
Sobre teus olhos, fechando-os
Em despedida.











Todas as estórias


As estórias
De meu tempo de em criança
Aprendi-as pelas ruas,
Não eram tempos
De estorinhas de mães,
Ocupadas com dez filhos
Em fiada…
Eram tempos duros,
Eram tempos raleados
Do pós guerra…
Tempos de flertar futuros
E esquecer passados…











Onde estão os berços?


As crianças crescem
Fisicamente…
Mas mantemos o colo
Ofertado.
Onde estão os berços
Onde embalamos seu sono?
Onde a procura pelo colo
Na hora do sono?
As crianças crescem?
Não para quem os viu nascer
E correr ao portão
Na chegada…
E depois se afastar
Como se tivessem autonomia
Para tal aventura…
Onde estão os berços,
Deixados embalançar
Vazios?









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