domingo, 22 de janeiro de 2017



As pessoas passam


Olho pela janela,
As pessoas passam…
Olho pela janela,
As pessoas passeiam…
Nenhum mal há nisso
A não ser a distância
Entre o bem o mal.
Olho pela janela,
Não distingo o armado,
Se bandido ou soldado…
Ou as duas coisas.
Olho pela janela,
Assusta-me a dúvida,
Já não vejo flores
Nem o sol se pondo,
Vejo caminhantes
Com suas sombras
De cowboys.
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Os versos são livres


Os versos
São livres pensares
A ser colhidos,
Se não tolhidos
Por quem não os semeia.
Passageiros das mentes,
Instrutores das almas…
E vão te fazendo menor
Tanto mais se desfazem
Em palavras lavradas.
Assim, palavreadores,
Ao plantar suas sementes,
Esperando que as colham,
Frutos, adiante, doces,
Que não pereçam azedos
A puxar o riso entre dores
E fazer de amoras amores,
Antes que o fossem.


Somos um tanto cegos


Somos todos um tanto cegos,
Ao não ver obstáculos…
Mas sentimo-los nas topadas,
E daí nos desviamos
E vamos em frente,
Que, à frente, teremos dúvidas
Dirimidas…
É preciso sentir acontecimentos
Que os olhos não podem ver
Em sua visão estrábica.
E seguir em frente…
E seguir em frente…
Até que se acabe a mágoa










A vigor


Há mais pessoas
Enterradas
Que pessoas
Caminhando
Sobre as campas…
Os ossos são memória
Que avigore.
As vidas são contadas
Pelos fatos,
De bordados
Sobre as mesas
A concreto
Sobre o asfalto.










A diminuta aranha


A diminuta aranha
Bordou sua teia hoje pela manhã,
Já anoiteceu e não conseguiu
Sua mosca…
Dá-me lição de perseverança,
Pode seja meu olhar poético
Mas é verdadeiro:
Nós, humanos, não temos
Essa paciência à espera da caça,
Sobre a mesa posta.













Fracionamentos


Descubro, pesarosamente,
Que só eu, às vezes, não me sei.
Todos sabem onde pisam,
Todos têm seus GPS
E se guiam direitinho…
-Para suas covas? Me pergunto…
Sei do meu tempo ido,
Não sei de meu tempo vindo…
Todos se comprazem em resolver
Seus cocientes, suas frações,
Mas não suas consciências
De tempos elevados a números,
Vendidos ou comprados,
Nessa elevação numérica
Ao quadrado.









Todas as ordens


Todas as ordens
Foram desobedecidas,
Fica patente que
Não é proibido ser feliz
Entre as agruras do tempo…
As más línguas,
As boas línguas,
A festejar aleatoriamente
O que se vai com a gente
Entre sóis de meios dias
E sombras de meias noites…
Das alegrias benvindas
Aos açoites.










Ferro-gusa


Aqui se grava
A mala sorte
Em fogo e água,
Em água e fogo,
Ao se fundir o aço
Na moldura
Do ferro-gusa
À forja acesa.
Aqui o ferreiro ferra
Seu próprio casco
A calçar-se a ferradura
De seu cada ato.











Nascituros


Nasceram comigo
Os sons dos arredores?
Aos poucos descobri-os,
O canto dos passarinhos,
Das moçoilas,
Dos cães e dos ventos…
Depois descobri
Que estavam todos aí
Antes de eu nascer conceitos
E reconhece-los junto…
Agora,
Perdido o interesse,
Continuam, quando me afasto
E não os ouço,
À distância
Perdi meu deslumbramento
De em criança.









Passado o dia
Dos riso pronto
Teremos de fabricar
Nova alegria…


















Cá dentro o frio


Cá dentro o frio
Da fresta da janela
Filtra-se
E escorre ao gelo
Das intenções,
A memória puxando
Momentos
Do fundo do baú
Dos acontecidos
Faz-me lágrimas e risos…
Pendendo o siso.
Todas as ofertas
Passeiam
No tempo vivido,
No por viver,
Deixando transparecer
O possível
Sonho feito
Das realidades.
La fora o dia findo
Diz adeus,
Cobra sua parcela
De eternidades…
Confessionário


Talvez o dia fosse
Reiniciado em paz
Se as pedras
Se movessem
Um pouco mais…
Talvez o dia fosse
Se o gelo encobrisse
Um pouco mais…
Talvez o dia fosse
O sangue derramado
Um pouco mais…
Não há pena aos
Animais na peia,
Aos predadores
Desnaturais,
Quando o homem
Se debruça
Sobre a mira
E faz o sangue
Jorrar no outro…






Talvez o dia fosse
Nova noite
Para deixar-nos
Espreitar
As sombras
E sabe-las de
Algum viandante
Que já foi vezes
Morto por viandar…
Talvez o dia fosse
Alegria entre choros
Desvairados
No atropelo
Desses terremotos
Se o dia fosse
Recomeçar.











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