quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Lote urbano


Um lote urbano (15x30)
Encerra um mundo inteiro,
De formigas, ninhos de vespas
Entre gramas e carrapateiras,
Até a ossada de um cão
Mora por ali…
Este mundo faz parte
De um universo de mundos…
Que é outro lote urbano
Com outras medidas,
Que se estende além
Do que a vista alcança
Mas é tão pequeno quanto,
Visto dos longes…









Marias-sem-vergonha


Tudo ficou tarde
Numa imensidão
De nadas…
Até o riso ficou triste,
Assim, por nada…
Apenas sussurrando
As flores murchas
No canto regado a secas
Na terra dura plantada
De marias-sem-vergonha
Nos vãos da calçada.












O homem jogado fora


Tudo que ele tinha por fazer,
E não o fez…
Entope seu esgoto de ideias,
A descarga manda embora
Excrecências,
Junto manda o oco
De onde saem as ideias,
Daí é que o homem
Não presta mais ao trampo
É jogado fora…













Fundeados


O dia não muda de data
Assim no meio da noite
Quando marca zero horas.
O dia hoje é quando acordo
E não viro de lado
Nem levanto pra mijar,
Mas quando levanto de vez
E vou caçar meus outros,
Fundeados no mesmo esgar.














Meu far-niente


Estou sentado na praça
Comendo BIS,
O guarda em pé me espia,
Acho que por inveja
De meus descompromissos…
Meu far-niente,
Se espiga para mostrar-se
Indiferente, mas,
Como o corneteiro frente ao limão,
Não consegue empertigar-se,
Talvez me veja como exótico
Por ser tão normal
Entre essas pessoas coloridas
De verde no cabelo
Ao podre na vida,
Que mastiga alguma coisa
Que não é comida…






Na beira do meu corpo


Na beira do meu corpo,
Que é dois terços água,
Afogam-se os desavisados
Nesse pleno lodo…






Armadilha


Sem querer
Prendeu-se à última gaiola,
A da consciência…







Os nomes que os homens dão


Os nomes que os homens dão
Às coisas, aos semoventes,
Não muda em nada?
Tem vezes que penso sim,
Que engrandecem ou apequenam
Nas faces visíveis nas coisas.
Se o homem viu a primavera
Na planta ou o sorriso no outro,
Ele lhe dá um nome, a torto.
Se os descobriu nos seus outonos
A evocação desse momento
Lhe é diferente, nas indiferenças:
Quando o homem vê o outro,
Inda nascente, e quando este outro
Cresce e se demuda,
O que lhe parecia João
Pode seja uma Joana nessa muda…
Assim como o sapo parece pedra,
Assim como a pedra parece sapo…
Ou o príncipe um larápio.
Toda visão é efêmera
E vai se transformando
Nas cores da vivência.
Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores


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