terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Volta à casa


A palavra volta à sua casa
Depois de arguir motivos
Em pinturas, esculturas, lavras…
Volta a mostrar-se poema
Num caderno
Aberto aos sentimentos
De razões arrazoáveis…
Palavra musicada em cada verso,
Vinda das cores imaginadas
Nesse quadro paisagístico
Onde a paz é obtida
Pelo silêncio.











Dentro das derrotas


Dentro de todas as derrotas
Subsistem vitórias,
Seja pelo sangue
Ou pelo esquecimento.
Cada hora que passa mistura
Vencedores e vencidos
Numa mesma vala,
Sob a mesma brisa,
A mesma falácia esquecida.
O dia depois degenera
Em vestes esfarrapadas,
Nos vencidos e nos vencedores
Na tala esquecedora
Das trincheiras.









Canções do nunca mais…


Nunca mais
As mentiras dos tempos meninos
Verterão desacontecidos…
No sonhar o toque dessas mãos
Da tia que amassava o pão,
Como antes fazia…
Nunca mais
O nude será inocente,
A rua será segura…
A mãe a acordar as gentes
Nessa cinza das horas puras…
Nunca mais…
Eu digo que o mundo está diferente
Mas na verdade a cada dia
Meu olhar é que muda,
Como a luz do sol do meio dia
E a mesma luz do sol, ao poente.
Nunca mais o mesmo prisma
A cada olhar resistente.




Indiferenças


A rua se sujeita
A toda sujeira,
Dos pés às almas…
Exposta à leveza dos pés
Que acalma.
Os passos entre portões de ferro
E guias de concreto
Trazem todos os residentes,
Do chão batido ao mármore,
Das entradas suntuosas
À calçada,
Onde gente é gente,
Mais nada.










A outra parte silencia


Se ainda houver
Em mim o grito,
A outra parte silencia…
Pois o ódio que poderia
É menor que o amor vigente.
Se sinto mágoa por alguém
Essa mágoa se dissolve
No que sinto por tantos…
Que a paz que me vive
É verdade perene
E a raiva que teria
É enquanto,
E tudo que vivo cada dia
Não passa do pôr do sol
Desse dia,
Mas a esperança que me vive
Vem de longe e aspira longes…
Mesmo que eu não diga
O que diria,
Fosse tanto.



Viandante


Eu me fui atrás de mim
Viando às aventuras
Em que me aventurei…
Mas eu não estava lá!
Nem cá nem acolá,
Estava onde não pretendia estar,
Por sombreiro…
Informado ter sido visto,
Além de mim, nas ombreiras
Do dia ontem,
Ter visitado o dia hoje,
Procurando o dia amanhã
Eu me vou longes…
Talvez me encontre ainda
Além das colinas viajadas,
Em mim.











O poema, visto de frente
Tem um perfil diferente.









Nesses tempos de wathzapp
Não se percebe diferença
Entre usar um aparelho
Ou ser usado por ele







Põe sentido, menino


Põe sentido no que digo,
Dizia o velho, de vivido,
Que o som que ouves
É milenar…
De tempos outros
Que não voltam mais,
E ao mesmo tempo
Continua ativo,
Mais que tua memória
Pouca, tua fase louca
De pouco siso…












Na lembrança das pessoas


Quero saber se inda existo
Na lembrança das pessoas,
Quero poder esperar isto,
De uma vez acontecidos,

Que é o viver e o conviver
Com a dor despercebida…
Quero usar desse convívio
Ao meio riso do sarcasmo

E voltar a ter aquele amigo
De certa vez me esquecido,
Sonhado ser-me permitido.

Quero saber se inda existo
Na lembrança das pessoas,
De uma vez acontecidos.






Descrido


É certo o ser humano
Descresse e morre-se?
Finda quanto ao tempo,
Se renova em cada cova,

Na pedra, que não move,
No vento que embalança
Na árvore que se torce…
Em tudo há renovação

Na natureza o tronco
Inda volta a florescer,
Com mesma condição

Do túmulo do homem
Nasce outro homem
Herdado, que se move.






A demora


O que sonhas dormindo?
O que sonhas acordado?
Os sonhos levam para longe
O conquistado…
Vens de todas as moradias
Donde trazes um punhado
De terra no embornal
A suster teus sonhos passados
E conferir-lhes o novo,
Aqui deixado ficar…
Passe a festejar os dias
Depois de festejar os anos
Vividos nesse engasgo,
Devolve aos outros dias
Para comer o hoje,
Esperando os amanhãs, em dias,
Não mais em anos…
Demorados.





Apreensões


A senhora
Lava seus pés na fonte,
O senhor procura
Restos nos baldes sujos,
O menino índio
Vende um cesto de vime,
Tudo isso fere a noção
De estarmos vivos
E alimentados…
Noção disparatada
Das diferenças…
O policial se apega ao mando
E leva a taboa de doces
Da senhora vendedora
De sonhos…
Por que, meu Deus, a fauna
Se alimenta dessas agruras
E não vê os verdadeiros
Bandidos dessa rua?

Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
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Perse e Clube de Autores



A razão de nadar ao contrário


O peixe se expõe
À lavratura da espécie…
A garça espera
Que ele venha apanhar
O miolo de pão jogado
Pelo homem da margem…
A razão de nadar ao contrário
Afeta todas as ações,
Do peixe ao homem,
Da garça ao lobo…
Até que a fome passe
Ou passe por ele
A fisga…
Que faz do homem praxe
Despendida.










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