terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Quando tudo se acaba

Quando tudo se acaba
Nada acabou…
No silêncio do velório
Está viva a face do morto,
Na memória
De suas piadas, seus modos,
Suas vestimentas,
No andar, na sua voz…
Quando a vida ali se acaba
Perpetua a face,
A saudade já pronta
Nesse primeiro embate.











Carnavais

Hoje é segunda
Dia de culpa feira…
Desde domingo,
A festa feira,
Que não se dorme
Nessa esteira…
Na espera do outro sábado.
Na terça feira,
A ressaca feira,
Que o tempo não passa
Nesta balburdia
Deixada desejar
Até a quinta, a água feira,
Secado o filtro…
Meninos e suas fantasias
Chamam a sexta feira,
A espera feira,
Até que surja a cinza feira
E sua vida que continua
Em cinquenta e duas feiras,
Monotonamente
Vagas…  sergio.donadio@yahoo.com.br

Aos que estiveram aqui


Perguntem
Aos que estiveram aqui
Pelo fim da estrada,
Por onde vieram, se voltam
Os viajados ascendentes
Dos homens sapiens…
Preguntem
Aos passantes seus endereços,
Suas revoltas, seus amores,
Aos sofredores perguntem
Suas dores, aos felizes
Sua felicidade, aos tristes
Sua tristeza… Tudo isso, verás,
Não tem endereço ou porquês.
Pergunte ao viajor sua volta,
Suas fotos, suas lembranças
Sobre fatos que todos eles
Não quererão lembrar
Suas dores.




Agora que me deito


Pois é, meu amigo,
Meu corpo está cansado
Mas minha alma não…
Agora que me deito
Pensam que dormi…
Nado para longe desses lençóis,
Passo a conferir os outros,
Perdidos nessa noite.
Agora que me deito,
O em volta se desfaz
Em entrelinhas,
Posso sentir as bolhas desse mar
Em pensamentos novos…
Em um mundo à parte.
Agora que me deito
O tempo se desfaz em horas,
Em outras vidas,









O som silencia
Agora que me deito,
E me dá a paz de novo dia.
Agora que me deito
Os fatos desacontecidos
Voltam a me acontecer
Entre paredes erguidas
Para guardar intimidades.
Agora que me deito
A vida me é verdade.













Sem volta


Todos se alteram
Com as garrafas bebidas.
Não sei se não sei
O que era para eu saber,
A essa altura da minha vida,
Por desatenção minha,
Passaram as pessoas…
Os pássaros…
As borboletas…
Até os cães se disseminaram
À minha volta
Sem que eu percebesse
Invernos e verões
Que se fizeram acontecer,
Sem volta.










Os olhos das estrelas
Estão nos espiando?
Somos o carbono refinado
Ou apensos à borra dele?
O amorfo do cristalizado?
A sobra do cataclismo?
O que            somos, afinal,
Nessa balburdia de raças,
De girinos e amebas,
De renascidos na graça?
Somos sim a parceria
Entre seres conjurantes
Vindos de alguma estrela,
Que nos está expiando,
Refinados do carbono
Deixado esvoaçar entre
Poeiras asteroides…
Crias do humanoides.






Trânsito


Estamos parados,
Como à espera
De que
Se abra o sinal…
Enquanto isso
Outros passam
Nas transversais
E se vão…


















Dá pra entender
O cães vadios,
Ele fuçam o lixo
Pra matar sua fome,
Não consigo
É entender
O homem.


















Todos vão e vêm a seu tempo,
Mesmo os que ficam, se vão…
Só não sabem pra onde…









Eles ficam aqui, ausentes,
Entre essa tarde chuvosa
E uma noite latente…











Fico observando as galinhas
Ciscando a terra,
Catando algumas coisas
Que saem dali…
De repente um pequeno roedor
Sai da toca e tenta fugir
Mas a galinha bica ele
E as outras brigam por ele…
Eu não sabia que galinhas
Eram carnívoras
Até entender que
Tudo que ciscam é carne
Na forma de moscas










O implacável fuso horário


Somos todos
Barrados pelo tempo,
Para um o desassossego,
Para outros a demora…
Alguns resolvem tudo
Com suas orações,
Outros com xingamentos,
Mas em todos os casos
A desrazão
Faz parte do íntimo
Momento.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Esparsos


Nesses tempos
De difíceis dores indefinidas
Existe algo digno de contar:
As fases vividas em par
Com essa outra pessoa,
Sem grandes solavancos
E quase nenhuma ranhura.
Mas os fatos se fundem
Sem causa nenhuma…
Apenas esse sol sendo na janela
De onde espia os gestos
Desde o meio do dia hoje…
Nesse tempo os azuis esparsos
Podem sumir de vez, sem aviso,
Apenas não esperando esse sol
Reamanhecido.







Pretextos


Sentado em frente
Fico observando,
(Não apenas vendo)
A mãe ensinando
Tomar sorvete…
Imagino quanto
Já ensinou a este filho
Desde que aprendeu
A pegar o peito
No primeiro abc da vida…
Benzendo quebrantos,
Soluços com fios da manta,
Seus tombos e sacolejos…
E sei que daqui a pouco ele
Irá desdenhar do conhecimento
Dessa mãe em seus pretextos…
Até que, vendo-a vencida
Pelos cansaços da vida,
Reconsiderará seus preceitos
Ao ouvir, em meio suas dores,
Que está tudo bem,
À despedida.

O poeta é o cavalo de trote


O poeta é o cavalo de trote,
Não serve pra rodar moenda,
Não serve pra arar canteiros,
Não serve pra puxar charrete…
O poeta é o cavalo de trote
Sendo sincero quando dorme,
Menos mentiroso que político,
Tão religioso quanto um padre?
Mas duvida que se o decifrem
Em suas vontades e valores
Nessa grade sem louvores…
O cavalo é um poeta de mote,
Sonhador… Viageiro… Árido
Em suas verdades, verdadeiro,
Nas dos outros torna esquivo…
                                   Mas estivo.







Achados e perdidos


Perdi um pé de meia.
Nada mais corriqueiro
E desnoticioso,
Mas,
Assusta-me perceber
Quão imprestável fica
O outro pé…
Jogado num cesto.
Jogados num cesto
Com se sentem os viúvos?
Os órfãos? Os deixados?
Talvez assim como a meia,
Perdidos em suas descoloridas
Ansiedades…
Talvez imprestáveis,
Talvez relevados a trapos…
Nos talvezes me amparo
E os guardo.





Desistências


Vejo na estante da livraria
Que uma agenda 2017,
Em branco!
Custa mais caro que um livro
Preenchido a duras penas
E rabiscos, e pensares…
Seja conto, crônica ou poesia,
Seja romance, historiografia…
Auto ajuda… Quem precisa?
O apressado senhor,  
Tendo de se impor horários
A confabulários,
Peita o custo aviltado
E leva o livro em branco,
Desempoeirado…
Por isso, caro amigo,
Não mais edito…
Que papel custa caro,
Pra ficar mofado
Neste armário.



Que a paz esteja convosco


Ouvir a pregação da franqueza
Apraz-me saber que me valha
A mão sobre ombros e o olhar
Fixo no vazio do teto abobado.

Raramente um padre convence
Meu instinto meio desconfiado
Mas esse atende os requisitos
Que estabeleço à inconsciência

De ser grave e meigo ao tempo
Ante as atrocidades de lá fora
Ao período dos desacreditados

Senhores de nossas derrotas,
Prendedores de nossa batalha
Na inconsciência dos violentos.






Paladares


Se sinto gosto amargo
Ao experimentar um evento,
Ponho-o de lado.
Se sinto gosto de podre
Na convivência amigável,
Torno a rever o passado.
Mas se sinto o doce no olhar
Desse convívio,
Retorno ao tempo atrás
A ter comigo.













Motel verdade


Meu amigo indignado:
- Há um motel
Na entrada da cidade
Que não tem porta no banheiro!
A atendente justificou:
- A intimidade desses momentos
 Dispensa privacidades…
- Absurdo!
Estou aqui gozando o prazer
Da companhia na cama,
Não quero compartilhar
Minha cagada!











Viúvas de parceiros vivos


Essas mulheres
Desamparadas,
Que vivem suas saudades,
Estão nas janelas
De suas casas
Espiando a paisagem,
Com seus companheiros
Dormindo ao lado…
Abandonadas.














Recorro
Do livro “Nas profunduras do tempo”

As gentes se convencem
Das reais necessidades
Quando a fome e o frio
Se agregam no fim das tardes…
Aí pode ser tarde.
Alguns não chegam
A esse estágio de penúria,
Fenecem antes,
Outros não se apercebem
Porque toda sua existência
Foi de fome e frio…
E os que não pensam,
Milionariamente sucedidos,
Quando percebem que
Fome e frio independem
De numerários
A mais ou a menos,
Mas do gelo das estações,
Das intenções, da parceria,
Avultam-se nos gestos
De comoção tardia.

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A um tempo
Se fez silêncio
A algazarra viva…
Onde os gritos meninos?
Onde as rabiolas?
Onde os convivas
De esvoaçantes vidas?
















Primeira profissão


Os fabricantes de bigornas
Desapareceram…
Os fazedores de rodas raiadas,
Os instaladores de ferraduras,
De fornos a lenha…
De torradores de café…
Desinstalaram-se.
Os benzedeiros, os curadores
Das feridas d’alma…
Os musicantes dos autofalantes
Das praças públicas…
Até os afiadores de facas e tesouras
E os consertadores de guarda-chuvas
E panelas descabadas…
Só as putas não desistem
Nas praças e esquinas mal iluminadas,
Com suas pernas envarizadas,
Seus peitos caídos, suas manchas
De batom e rímel…
Suas feições vencidas pelo trato
E suas bolsas…. E suas mágoas.



domingo, 19 de fevereiro de 2017



A fala da poesia


Pode aumentar
O tempo de vida
Pois enquanto leio
Não envelheço.





Em companhia


Vou sentar do meu lado
Para sentir de perto
Minha consciência,
Meu humor,
Meu hálito,
Minhas vozes…
Vou sentar do meu lado
Falando pra dentro,
Em silêncio.
Vou sentar do meu lado
E desvendar meus segredos
Dos tempos vividos,
Dos tempos por vir…
Vou sentar do meu lado
E espairecer…











O substantivo bêbedo
Pode ser adjetivo
Desqualificativo
Se juntado à palavra
Homem…







Cativeiro


Passarinho preso
Não canta, chora…






Quando voltaremos a ouvir os grilos?


A noite chega,
Imperceptivelmente,
As luzes dos postes
Vão se acendendo,
Moleques aquietam
Suas algazarras,
No mercado o cheiro
É de pão quente,
Na rua a pressa
Põe ordem nas lojas,
As portas de aço
Se fechando…
A fila no ônibus circular,
A pressa no barulho
Das modernidades…
Quando voltaremos
A ouvir os grilos
Nos fins de tardes?





As feras verdadeiras


As verdadeiras feras
Não são as que tememos
Pelos rugidos…
São as traças nos tecidos,
As sanguessugas,
Os Aedes Aegypti…
Essas são as verdadeiras,
Que herdarão o mundo
Após os homens finarem.
Do tempo dos dinossauros
Sobreviveram as baratas,
Do nosso tempo ficarão
Os vermes alimentando-se
Dessas pequenas feras
Que se confundem
Com a paisagem
E proliferam…






Mudanças


Somos nômades,
Às vezes fixados em alguma
Nascente…
Mas sempre sondando
Novas moradias
Além das vertentes.
Somos gregários,
Às vezes abrigados com amigos
E parentes…
Mas sempre de braços dados
Ternamente.
Somos aviculários, navegantes,
Viajando sempre
Ao que seria o antes,
Mas fortemente enraizados
Aos ascendentes…
Descendentes…
Precatados, vagamente
Mudados…




Entre pipas e telas


É hora
De desempacotar as horas
Recebidas
Como presentes do tempo…
Vencido o tempo
De em meninos, nos telhados,
Suas pipas, suas malandragens
Copiadas de outros tempos…
É hora de rever esses meninos,
Atualmente menos traquinas,
Mais aquietados,
Guardados em suas telas
Em situações virtualizadas…
Sei que parece saudosismo,
Mas hoje os meninos
São menos infantis,
Não conhecem a aventura
De roubar quitandas,
Mas também não têm respeito
Pelos outros ao seu convívio,
E o que me dá pena,
Nem por si mesmos…
Indivíduos.

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A realidade pode esperar


Todas as obras construídas
No plano de um dia concretizadas?
Todas as viagens, os diplomas,
A ansiedade pelo desempenho…
Os motores, as motos, os hotéis,
Os cruzeiros pelos caribes…
Tudo realizável no plano dos amanhãs.
Pelo fim dos tempos,
Quando as pernas afrouxam,
O sexo, os braços, os abraços…
A procissão de fatos.
Esperar… Esperar…
Até quando não houver mais
Motivos a sonhar
A espera.








Meu pálido amigo


Meu amigo estava pálido,
Troncho, procurando encosto
Pelas ruas sujas de seu trecho…
Viajamos no tempo tantas vezes
A relembrar o vadio passado.
(Tinha muito medo do inferno
Prometido a ele, desacreditado)
Tergiversava sobre isso,
De merecimentos…
Caminhava, com muito esforço
E pouco avanço, sumiu de vista.
Faz falta sua conversa abalizada
Sobre as matérias advocatícias…
Hoje tivemos notícia do velório,
Fomos pra lá, uns orando pela sua alma,
Outros refazendo nossos passos…
Impressiona como, depois de morto,
Ele nos parece mais sadio que em vida,
Com a calma usual aos mortos,
Sem a palidez da lida.



Espaventados


Os pássaros
Abatidos pelos estilingues
Cantam do lado de lá,
Fora da vista dos predadores.
A passagem do trem
Espanta os pombos,
Sinos as andorinhas
E tudo é tão corriqueiro
Para o homem
Que passa veneno
Nos pés das couves
E envenena o outro homem,
Talvez intencionalmente?
Espaventado tenta.









Ao cabo dos dias


As mãos
Já não respondem
Ao gesto.
As mãos
Já não espremem
Limão,
Cravos nas costas
Do parceiro.
As mãos
Já não se firmam
Ao cabo da faca
Na feitura do palito,
Já não apertam outras
Na feitura dos amigos,
Mas continuam aqui,
Tremendo e esperando
Paralisarem de vez,
Ao remate da tarde,
Resumindo as dores.





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Cada um colhe seu semeado?


Hoje os tomates
São feito estratos,
Colhi-os pela manhã,
Na banca do mercado,
Passados de maduro,
No ponto para a fervura,
Assim como os meninos
De um tempo, semeados…
Batidos com suas sementes
E suas cascas, seus miolos,
Assim como todas as frutas
E verduras e pessoas, para
Moê-los nesse tempo afora
E verte-los ao sal e à água
E conserva-los nesse gelo
Que nos faz consumidores
Do não plantado, colhido
Ao desassossego, à revelia
Do velho ditado,
Na efervescência…
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Questão de religiosidade


Eu acredito em Deus.
A dúvida é se Ele
Acredita em mim…












terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Sempre é tempo


Olha a hora!
Talvez seja tempo
De sorrir de novo…
Ou tempo de chorar o tempo,
Tirar o feijão do fogo,
A roupa do varal,
Varrer suas sujeiras
No tempo do quintal…
Uma celebração
É sempre bem vinda
Entre as rusgas e regalias
Na fusão de gentes e horários,
Às vezes indevidas
Neste iletrado senhor,
Que passa, e passado o tempo…
Ao tempo se esmola.
Olha hora!
E perca um segundo
A mais que antes
A seguir o instante…
De ir-se embora.


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O fogo reclamado


Os meninos brincam de alienados
Enquanto o mundo gira alienador
E o dado continua a ser quadrado.
Os meninos brincam de alienados
E as fomes avançam sobre a reles,
A chamada por raça humanidade.
Os meninos brincam de alienados
Ao forrar suas fronhas dessa baba
Enquanto sonolenta seu cansaço.
Os meninos brincam de alienados
Enquanto devedores lhes pagam
Para além pós graduação em algo
Que os consome no tempo lavado.
Os meninos brincam de alienados
E a fome campeia suas ideologias
No conforto ante americanizado.
Mas dias continuam sem favores,
Apenas sobreviventes caminham
E os fenecidos recebem flores…


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Em tempo de revoltas


Bem,
O que fazer agora,
Que raiou esse dia
Sem aurora?
Dessa geração que nasce
Sabendo das coisas,
Querendo ter voz em antes…
Discutindo suas maturas
Meninices… E agora?
O que fazer deste novo dia
Que raia e se espraia
Entre velhas ideias
E sobre os ideais
Defendidos por nós,
Precursores da paz?








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Ponto cego


Toda vez que olhares
Para o passado
Haverá um ponto cego
Entre a verdade
E as mentiras
Tornadas verdadeiras.
Regule este retrovisor
Que o faz desviar-se
Da verdadeira razão
De penar saudades…
Porque se olhares
Para o amanhã,
Lá também embaçarás
Tua visão na névoa
Dos prometidos…
O agora… Ah, o hoje
Não foi promessa,
É o que fazes de melhor
Ao pé do fogo,
Ao calor da amada…
Ao ciclo das verdades,
Inda inventadas.

Roídos pela manhã


As coisas
Que não se prestam
Para nada
É que ficam na memória,
Até se desprestarem
De vez…
As coisas
Prestáveis para o momento
São raras, são gostosas,
São animáveis,
Por isso acabam antes
De se estragarem ao pranto.
Na gulodice do doce prazer
As coisas se desfazem,
Não sobram pro dia seguinte
Para serem oferecidas
Para os de lá fora.
Para eles sobram os ossos…
Os ossos, Maria, os ossos
Roídos pela manhã.


Saudade do amanhã


Quando menos se espera
O amanhã virou hoje,
Saudade ou esquecimento…
O amanhã chega rápido
E rápido se dissolve…
É preciso conservar no gelo
Da memória
A saudade do amanhã,
Fato que só faz sentido
Às almas poetizadas,
Aventureiros sem pressas…
Para o apressado o amanhã
Já é passado.













O menino, todo tatuado, com furos
Onde não haveria de ter…
- Como vai ser isso, quando velho?
- Não vou envelhecer, morro antes.
Que pedantismo desse errante…














Portas fechadas


Todas as portas se fecharam,
Afinal… Você fez cinquenta anos!
Sabe, se não for candidato
A algum cargo político,
Politicamente está avelhantado,
Acabado para o mercado…
Desalojado das ofertas…
Destituído da cidadania
Representada pela utilidade
Da sua pessoa… Pois é…
Incoerentemente as vagas
Pedem “adolescências”
De vinte e poucos anos…
Com experiência!
É,
Esta geração vem adolescendo
Depois dos anos adolescidos…
Depois serão também
Esquecidos.