segunda-feira, 27 de março de 2017

Volições


O desejo pela maçã
Quase a torna adjetivo
Cunhado à ideia sã
Que satisfaça o sentido.

O desejo não explorado
Morre por inativo
Trocado pela saudade
Pode seja um suspiro.

O desejo a cada idade
Abrange novo sentido
Cunhado na liberdade

Da vida sonhada ser
A vez de cada verdade,
Ou passou a ter sido.






Cada palavra poesia


Cada poesia quando exposta
Fica sendo palavra poema,
Cada poema é uma palavra
Diversa da outra palavra.
Assim nascem poemas pedras,
Duras, insensíveis, pétreas.
Outras chegam ao extremo
De serem poemas verduras,
Que nascem e pouco duram
No espasmo da vida dura,
Mas se tornam eternas
Nas palavras espinhosas,
Às vezes sem saber porquê…
Revejo poemas águas, fogo,
Utensílios e máquinas…
Com seus diversos destinos,
Da fala lúgubre à intestina.






Passo e repasso


Saibam que sou tudo
O que não interessa…
A vida começada
Não tem pressa.
O tempo desejado
Seja longo o bastante
Para ouvir o ronco
Dos novos delirantes…
Alguns passam ilesos,
Outros se machucam
Tanto que o tempo
Cicatriza em pranto.
Saibam que sou nada
No encanto de não ser,
Apenas maleável
Ao menor dos ventos
Como o barco em mar
Aberto ao relento…
Saibam que sei disso
Desde o meu início,
Que passo e repasso
E volto ao princípio.

Corpos despidos


O corpo despido
Escorre pela ladeira…
Já não faz sentido o choro…
A madraceira esfola um cabo
Pra próxima ceifa.
O que poderia ostentar pureza
Se afigura…
O corpo despido cede à sinecura,
O que vale o tento reclamado,
Se não sua feitura em cabo
E corte em fio afiado?
O corpo despe-se de fato
Ao ser lesado.













Eu sonho o sonho
Dos antigos sonos…
De quando em quando
Vejo-me surgir
Entre essas árvores,
Vejo com espanto
Que são as mesmas d’antes,
Que sempre estiveram aqui.
E vou sonhando
Com o que antes sonhara,
Que elas florescem
O viajar dos dias…
E por elas volto ao tempo
Das inocentes fantasias…












Num momento corrigido
Me encontro pouco a pouco
A relembrar o tenho dito,
Coisa que ainda é pouco
Nesses momentos vadios
Em que encontro o fio da meada
Perdido em momentos hostis.
Mas não reconheço nada
Deque pensava de mim
Sendo parte desse tempo
Sem começo ou fim.















Sobre o telhado de vidro
Jogam as pedras.
Não faz sentido ressentir-me
De pedradas anônimas,
Dessas
Que covardemente
Atiram-me às costas da vertente.
De sobre os telhados cato
Essas pedras
E pavimento
Meus pensares,
Meus intentos…











Carriço


Hoje,
Conversando com alguns sábios,
John McCrae me diz
Das dúvidas sobre os seus deuses,
Descubro o quanto ignoro
Temas que dizem respeito
Aos correres da história,
Que continuo não entendendo.
Às vezes me surpreendo
Discutindo com antigos versos,
Que a mim se falam
E de mim divergem…
Mas eles já se foram, faz tempo,
Que não sei quanto é de meu
Seu desatento.








Revoluteios


Vivemos bem as modernidades?
Já não tomamos jardineiras,
São ônibus trafegando
Em vias pedagiadas
Nossos sonhos desviajados,
São imagens em 3D
Essas passagens pelo tempo
Que não se demoram explicar
Minhas ignorâncias.
Tão rápido a dedilhar Wathzapp
Nessa penúria de tempo,
Correm para algum lugar nenhum
Dentro de seus próprios lugares.
Essa impaciência com minha leitura,
Nas catracas informativas,
Onde quase sempre alguém me desavisa do que há e do que não há,
De balas a cafezinhos.
Alguém me sabe assim meio cego,
Meio surdo,
Meio cansado de correr atrás do tempo?




Não!
Eles apenas se impacientam
De eu não saber inglês,
De como se comunicam
Com essas maquininhas interlocutoras,
Mesmo no tête-à-tête
Com a mesa ao lado…
Como saber se estávamos certos
Ou se eles estão errados?
Ainda respiramos, desgraçadamente,
Aqueles problemas de antigamente…
De quando o bonde sobre trilhos
Chiava suas rodas ao atrito…
E o vendedor de bugigangas,
Hoje andarilho?
Como se o tempo refizesse o tempo
Revoluteando o mundo,
Costurando as ações
Desse vagabundo.



Pela porta aberta


Pela porta aberta
Me chegam os louvores,
Me dizem as horas,
As benesses, as malcriações
Dos meninos desvairados…
Pela porta aberta
Saem as ordens
Para que possam sorrir
Por lá da porta…
Pela porta aberta
Há de voltar o filho, pródigo,
E, mesmo que não se o queira,
Será bem-vindo,
Que a porta, em estando aberta,
Dá esse aviso.








Um par de chaves


Quando nós dois
Não tivermos por consolo
O olhar ao rio passante,
Haveremos de nos
Espelharmos em sua vontade
De ir adiante…
Quando nós dois sentirmos
Saudade das coisas fúteis
Que não guardamos,
Por certo veremos
Nas cristaleiras de antes
Esses objetos soltos
Entre outras lembranças,
Um par de chaves
Abandoado ali
Será o bastante pra saber
Quanto perdi.






Parlenda


Passo pelo parque
A revoada das pombas
Faz-me inveja,
Que quereria eu olhar
De cima o que rasteja
Pela calçada humana.
Mas eu mesmo me vejo
Catando restos
Como um gato vagabundo
Ali por perto…
Ele também não conseguiu
A ave, que voou antes,
E se contenta em raspar
As penas que ela deixou
Na pressa de ir-se à vida.
Vejo que, embora não sinta
A mesma fome que ele,
Que também não voa,
Tenho a mesma desilusão
Da outra loa…



Convite ao gris


Deixei-me entrar
Nessa ilusória sensação
Da porta giratória,
Que me convida sempre
E trava aos meus pertences.
Agora nos deparamos
Com deveres e haveres,
Eu e ela,
Simplesmente ao pintar
O momento de nova aquarela
Com a mesma cor de antes.
Há alguma coisa que eu possa
Dizer
Que não seja cópia
Do que já o tenha dito?
Passo por essa porta
E volto,
Que não quero mais entrar
Nesse sentimento
Hostil ao atual momento
Grisalhado vil. 

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A velha sanfona
Jaz
Ao lado esquerdo da cama,
Silenciada se faz
Ouvir
Ao que o tempo
Reclama…
Velhos acordes
Voltam
A barulhar as crianças
Puxando seu fole mole
Dando-lhe alguma

Esperança.

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